Um Vazio
Ógui
Lourenço Mauri
Um vazio põe
além do horizonte
Um querer
que à distância se lança,
Pois a ânsia
que o barco desponte
Jacta o
falso sabor da esperança.
Eu bem sei,
não mudou a janela,
Mas o barco
de longe não vem.
A saudade é
bem mais do que "aquela"
E a vontade
do beijo também!
É verdade
que após as tormentas
O mar calmo
se faz tão presente,
Como é certo
que as nuvens cinzentas
Põem o Sol a
brilhar novamente.
Por aqui,
vejo a chuva caindo;
Logo mais,
chega a luz desde o leste,
A mostrar
todo o azul do céu lindo,
Um desenho
de Deus, inconteste!
Pensamento
vai longe, de vez!
Traz, enfim,
esse barco; reitero!
Penso até
que meu porto, talvez,
Não comporte
o navio que eu espero.
(ALMANAQUE
CHUVA DE VERSOS, Nº 359, JOSÉ FELDMAN)
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