BONS TEMPOS...
Filemon Martins
Hoje, o dia amanheceu
frio e uma chuvinha fina, muito fina me fez permanecer em casa. Não havia o que
fazer. Vi um pouco de televisão, peguei o celular, li jornais e escrevi algumas
linhas.
A inspiração também
não me pareceu bem disposta. Talvez o tempo frio esteja atrapalhando e então me
pus a lembrar. Lembrei-me dos tempos idos e vividos. Faz muito tempo, lá em
Ipupiara, no interior da Bahia, eu e o primo Jeremias Ribeiro Filho (fomos
sempre amigos e andávamos juntos, mesmo depois de adultos nossa afinidade era
grande) estávamos no meio de grandes mangueiras. Na Bahia são muito comuns
grandes pés de manga. Uma delícia. Não foi à toa que o poeta Carlos Ribeiro
Rocha escreveu: “Velha mangueira – altar da Natureza, / onde cantam contritos
passarinhos, /dos ramos implorando mais beleza/para o adorno macio dos seus
ninhos!”
Pois bem, havia uns 25
pés de manga de várias espécies, entre outras, manga comum, espada (lá não se diz “Bourbon”), manga rosa, manga
papo e outras que não me recordo agora.
O primo quis apostar
comigo: seria capaz de subir no primeiro pé de manga e sem tocar a terra descer
no último pé de manga do pomar do meu avô Gasparino Martins. Aposta feita, lá
fomos nós pelos galhos das mangueiras, como se fossemos macacos a pular, de
galho em galho, até chegarmos ao último pé de manga.
Ninguém venceu a
aposta, mesmo porque nós dois conseguimos o feito. Chegávamos a casa à noitinha
e a porta já estava trancada com a tramela. Era preciso chamar alguém para
abrir a tramela e aí não tinha jeito: era necessário explicar a demora. E lá
vinha bronca...
Hoje, quase nada mais
resta daquelas mangueiras do pomar e do que fomos também. Só as lembranças e as
saudades é que permaneceram intactas. Inteligente e estudioso, Jerry Filho,
como ficou mais conhecido, veio para São Paulo, onde se tornou funcionário da
Concessionária Mercedes Benz (COBRAVE). Poeta e trovador teve premiações
oriundas de vários concursos de trovas espalhados pelo Brasil. Pertenceu a
diversas Entidades Literárias, entre outras, o Centro Lítero-Cultural de
Felgueiras – Portugal. Colaborou com o jornalzinho do Postal Clube, Rio de
Janeiro, organizado e editado por Araci Barreto. Participou da Quinta Antologia
Poética de A Figueira, editada pelo saudoso poeta Abel B. Pereira. Figurou
também no Anuário de Poetas do Brasil, 1980 – 3º volume, organizado pelo
saudoso Aparício Fernandes. Em 1981 participou do Anuário – Coletânea de Trovas
Brasileiras, editado pelo médico e saudoso poeta Fernandes Vianna, do
Recife-PE. Publicou os livros ABC DE IPUPIARA (cordel) e CENTELHAS DO ALÉM. Foi
casado com Jardilina Rodrigues e nos últimos anos residia em Ipupiara, Bahia.
Faleceu a 19/05/2015 e foi sepultado em Ipupiara, sua terra natal. Mas nossa
adolescência, pode-se chamar de bons tempos, meu saudoso Jerry Filho.
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