QUEM
FOI ZÊNIA BIRZNIEK?
Filemon Martins
ZÊNIA BIRZNIEK nasceu em Riga,
na Letônia em 11/11/1917 e fugindo da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), aos
3 anos veio com sua família para o Brasil, radicando-se em Palma/SP (Colônia de
Letos), onde viveu e estudou até os 15 anos, transferindo-se para a capital
paulista, onde trabalhou num ambulatório médico e concluiu o curso de
Enfermagem. Antes, em 1931 foi batizada em Varpa, também interior de São Paulo.
Apresentou-se à Junta de Missões
Nacionais, da Convenção Batista Brasileira, para servir como enfermeira nos
rincões do brasil. Designada para trabalhar em ipupiara, no sertão baiano, como
Enfermeira Missionária da Junta de Missões Nacionais.
Seus familiares e amigos olharam
o mapa do Brasil e não encontraram a tal cidade e aconselharam dizendo: - ¨não
vá, o local deve ser muito perigoso e cheio de índios¨. Não adiantou. A
Enfermeira Zênia estava decidida e em janeiro de 1957, com 40 anos de idade,
chegou à Ipupiara, conforme suas palavras registradas por Arides Leite Santos,
no livro: ¨HISTÓRIA DOS BATISTAS EM IPUPIARA¨. ¨Numa madrugada de janeiro de
1957, à meia noite, em cima da carga de um caminhão cheguei à ipupiara. Mesmo
cansada, observei aquele céu estrelado. Na manhã seguinte, ao abrir a janela,
vi o mesmo quadro que havia visto no dia do meu batismo, aos treze anos, na
Colônia de Letos em Varpa, São Paulo. Um quadro muito lindo, cheio de flores,
com aquelas montanhas azuis... – Senti que era a confirmação da minha chamada
para o ministério e para trabalhar naquele lugar – Ipupiara¨.
Na verdade, o Município de
Ipupiara foi criado pela Lei nº 1015, de 09 de agosto de 1958, sancionada pelo
então Governador da Bahia Antonio Balbino. Portanto, após a chegada da
Enfermeira Zênia à cidade.
No ano seguinte em 1958, a
missionária ajudou Fábio Francisco Martins (21 anos) e Mário Ribeiro Martins
(15 anos) nos estudos na cidade de Xique-Xique, onde ambos viveram com o pastor
missionário Jonas Borges da Luz. No ano seguinte, 1959, Fábio desistiu e foi
para São Paulo, onde trabalhou como cobrador de ônibus, na época em que o
cobrador usava uniforme e boné keep.
Mário Ribeiro Martins continuou, só que em Bom Jesus da Lapa, primeiro
no Ginásio Bom Jesus e depois no Ginásio São Vicente de Paulo, onde concluiu o
Ginásio em 1962, seguindo para o Recife, onde fez o curso Clássico no Colégio
Americano Batista e depois foi para o Seminário Teológico Batista do Norte do
Brasil, onde se tornou Mestre em Teologia, sempre com a ajuda financeira da
missionária Zênia. Em 1968 foi consagrado como Ministro Evangélico, tornando-se
pastor da Igreja Batista de Tejipió, no Recife.
Registrei em meu livro
¨Histórias que só agora eu conto¨, o trabalho notável que a Enfermeira Zênia desenvolveu
em ipupiara, na área da saúde pública, atendendo todos os pedidos de socorro
que lhe chegavam de todo o Município, visto que não havia médicos naquela
região. Não havia hora nem dia, atendia a todos com polidez e extrema
competência. Só perguntava como a gente chega até lá? Podia ser a pé, de carro
ou mesmo no lombo de um burro, ela estava pronta para ir. Vencido o tempo em
que ela deveria ficar em Ipupiara, ela não hesitou em pedir mais tempo e
continuou salvando vidas (pela enfermagem) e salvando almas, como missionária
corajosa e dedicada. Após esse segundo período, foi transferida para Natividade,
hoje Tocantins, onde permaneceu por dez meses, sendo transferida novamente para
Japaratuba, Sergipe, onde continuou fundando Igrejas e cuidando da saúde da
população. Como reconhecimento ao seu trabalho, recebeu o título de Cidadã
Japaratubense. Em seguida foi para Pacatuba e depois São José, no interior de
Sergipe.
Ajudou também financeiramente
nos estudos de Maria Áurea Andrade, Rosa Maria Teles e Gizalva Alves Menezes,
no seminário de educadoras cristãs, que, em 1919, por sugestão do sociólogo
Gilberto Freire, passou a se chamar ESCOLA DE TRABALHADORAS CRISTÃS, nome que
perdurou até 1958, quando passou a ser chamado de SEMINÁRIO DE EDUCADORAS CRISTÃS
até 1994. Desde janeiro de 1995 chama-se SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ.
Quando a Missionária Zênia
passou por São Paulo, provavelmente em 1971/1972, eu a visitei na rua Irmão
Lucas, em Pinheiros, onde ficou hospedada na casa de amigos. Foi um bate papo rápido,
mas proveitoso.
Aposentou-se em outubro de 1987,
com 64 anos de idade e 30 anos de serviços prestados à Junta de Missões
Nacionais. A jornalista Sandra Regina Bellonce escreveu excelente matéria sobre
a missionária Zênia publicada na revista Visão Missionária, Rio de Janeiro, 3º
trimestre em 2001. É citada nos livros UMA EPOPEIA DE FÉ: HISTÓRIA DOS BATISTAS
LETOS NO BRASIL (1974), de Osvaldo Ronis; MISSIONÁRIOS AMERICANOS E ALGUMAS
FIGURAS DO BRASIL EVANGÉLICO (2007), de Mário Ribeiro Martins; HISTÓRIA DOS
BATISTAS EM IPUPIARA (2ª edição-2017), e IPUPIARA & IBIPETUM – HISTÓRIA DE
LUTAS NA CHAPADA DIAMANTINA (2ª edição-2017), ambos de Arides Leite Santos;
HISTÓRIAS QUE SÓ AGORA EU CONTO (2018), de Filemon Martins.
Faleceu em 09/11/2012 aos 94
anos de idade, na praia de São José, Sergipe, onde morava.
REFERÊNCIAS: Missionários
Americanos e Algumas Figuras do Brasil Evangélico, Mário Ribeiro Martins; História
dos Batistas em Ipupiara e Ipupiara & Ibipetum – História de Lutas na
Chapada Diamantina, ambos de Arides Leite Santos e Histórias Que Só Agora eu
Conto, Filemon Martins.
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