LUGAR VAZIO
(Homenagem à minha Mãe, NINA RIBEIRO
MARTINS, que nos deixou em 25/11/2002).
Filemon Martins
Todos os anos, num determinado mês, eu voltava à
minha cidade natal para rever minha Mãe. Ela, em Ipupiara, interior da Bahia.
Eu, na cidade de São Paulo, que me acolheu em 1969. Mas todos os anos era
aquela festa. A visita de um filho à sua mãe não poderia ser diferente. Não
falávamos por telefone. Tinha problema de surdez. Preferia minhas cartas, meus
relatórios, especialmente quando viajávamos de lá para São Paulo. Sempre pedia
que eu lhe contasse tudo: o trajeto da viagem, a demora, as novidades e a chegada
em São Paulo. Queria saber tudo, detalhadamente. Conhecia e gostava da cidade
de São Paulo. Morou conosco em 1977/1978, se não me falha a memória. Depois,
preferiu retornar à terra natal, porque um dos meus irmãos precisava mais dos
cuidados dela e nisso todos nós concordamos.
Nestes últimos anos, em face de um derrame,
ficou com o lado esquerdo paralítico e se locomovia com dificuldade. Fez
tratamento na cidade de Anápolis, Goiás, quando também morou por um período na
casa do mano Mário Ribeiro Martins, então Promotor de Justiça, naquela cidade.
Depois, já em Ipupiara, ficou morando com minha irmã, Eunice Martins, um anjo
em sua vida, casada com Fábio Francisco Martins. A casa de minha irmã é antiga,
mas possuia sala, uma pequena antessala, quartos, cozinha, banheiros e um
pequeno quintal, onde existem algumas árvores frutíferas. Na sala, há uma mesa
com cadeiras, sofá, cristaleira antiga, estante com alguns livros, uma
televisão e dois relógios de paredes. Ali na sala, a Dona Francolina Ribeiro
Martins, mãe de 8 (oito) filhos: Adão Martins Filho, Eunice Ribeiro Martins,
Mário Ribeiro Martins, Marli Ribeiro Martins, Nina Ribeiro Martins, Filemon
Francisco Martins, Gutemberg Ribeiro Martins e Manoel Ribeiro Neto, assistia
televisão, lia bastante e às vezes, escrevia algumas cartas para seus filhos,
filhas, netos e netas. Quando se recolhia ao quarto, gostava de ver novelas em
sua televisão, já que ouvia com dificuldade.
Quando chegávamos de São Paulo, eu, esposa e
filhas encontrávamos a Dona Nina (era assim que ela gostava de ser chamada),
sentada no sofá da sala. Eram longos papos, falávamos de tudo e de todos. Mas o
tempo passou e no dia 25 de novembro de 2002, às 22 h, com 82 (oitenta e dois)
anos, a Dona Nina nos deixou, deixando também uma infindável saudade em nossos
corações.
Quando lá voltei em janeiro de 2003, a casa de
minha irmã, em Ipupiara, continuava a mesma: mesa, cadeiras, sofá, cristaleira,
estante, televisão e relógios, mas no sofá havia um lugar vazio para sempre.
Uma dor indizível se apossou de mim e foi difícil aceitar. Não sei se chorei,
mas até hoje sinto sua presença em mim. Vale lembrar o grande Mário Barreto
França, quando escreveu: “Ai, quem me dera te tornar à vida/ para inda ouvir a
tua voz querida/ e em teus braços maternos repousar. Porque somente o que tem
mãe no mundo, / pode encontrar no seu amor profundo:/ a fé e o alento para crer
e amar.”
O lugar ficou vazio, mas deixou uma saudade que
não passa nunca.
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