OS SEMEADORES 24
(
Século XVI)
Eis
aí saiu o que semeia a semear.
MATH.
XIII, 3
MACHADO
DE ASSIS
Vós
os que hoje colheis, por esses campos largos,
O
doce fruto e a flor,
Acaso
esquecereis os ásperos e amargos
Tempos
do semeador?
Rude
era o chão; agreste e longo aquele dia;
Contudo,
esses heróis
Souberam
resistir na afanosa porfia
Aos
temporais e aos sóis.
Poucos;
mas a vontade os poucos multiplica,
E
a fé, e as orações
Fizeram
transformar a terra pobre em rica
E
os centos em milhões.
Nem
somente o labor, mas o perigo, a fome,
O
frio, a descalcês,
O
morrer cada dia uma morte sem nome,
O
morrê-la, talvez,
Entre
bárbaras mãos, como se fora crime,
Como
se fora réu
Quem
lhe ensinara aquela ação pura e sublime
De
as levantar ao céu!
Ó
Paulos do sertão! Que dia e que batalha!
Venceste-a;
e podeis
Entre
as dobras dormir da secular mortalha;
Vivereis, vivereis!
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