BONS TEMPOS...
Filemon F. Martins
Hoje, o dia amanheceu frio e uma chuvinha
fina, muito fina me fez permanecer em casa. Não havia o que fazer. Vi um pouco
de televisão, li jornais e escrevi algumas linhas.
A inspiração também não me pareceu bem
disposta. Talvez o tempo frio esteja atrapalhando e então me pus a lembrar.
Lembrei-me dos tempos idos. Faz muito tempo, lá em Ipupiara, no interior da
Bahia, eu e o primo Jeremias (fomos sempre amigos e andávamos juntos) estávamos
no meio de grandes mangueiras. Na Bahia são muito comuns grandes pés de manga.
Uma delícia. Não foi a toa que o poeta Carlos
Ribeiro Rocha escreveu: “Velha
mangueira – altar da Natureza,/onde cantam contritos passarinhos,/dos ramos
implorando mais beleza/para o adorno macio dos seus ninhos!”
Pois bem, havia uns 25 pés de manga de
várias espécies, entre outras, manga
comum, espada (lá não se diz “Bourbon”), manga rosa, manga papo e outras que
não me recordo agora.
O primo quis apostar comigo: seria capaz
de subir no primeiro pé de manga e sem tocar a terra descer no último pé de
manga do pomar do meu avô Gasparino.
Aposta feita, lá fomos nós pelos galhos das mangueiras, como se fossemos
macacos a pular, de galho em galho, até chegarmos ao último pé de manga.
Ninguém venceu a aposta, mesmo porque nós
dois conseguimos o feito. Chegávamos a casa à noitinha e a porta já estava
trancada com a tramela. Era preciso chamar alguém para abrir a tramela e aí não
tinha jeito: era necessário explicar a demora. E lá vinha bronca...
Hoje, quase nada mais resta daquelas
mangueiras do pomar e do que fomos também. Só as lembranças e as saudades é que
permaneceram intactas. Bons tempos, meu caro Jerry.
(Do livro “FAGULHAS” em revisão)
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