SONHEI-TE (GILKA MACHADO)

SONHEI-TE
GILKA MACHADO (1893/1980)

Sonhei-te tantos anos! Tantos anos!
Eras o meu ideal de amor e de arte,
buscava-te a toda hora e em toda parte
nessa ânsia inexplicável dos insanos.

Enfim, vencida pelos desenganos,
como quem nada espera que lhe farte
a alma faminta, exausta de sonhar-te,
abandonei-me do destino aos danos.

Surges-me agora, em meio da jornada
da Vida: vens do Inferno ou vens da Altura?
- Não sei: mas de ti fujo, apavorada!

E, em lágrimas, minha alma conjetura:
uma felicidade retardada
quase sempre se torna desventura.

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