SOBRE A MAIORIDADE PENAL
Filemon F. Martins
Ainda fico com
a experiência. Experiência própria. Cheguei em São Paulo com 18 anos,
proveniente da Bahia. Mas, antes já havia visitado São Paulo algumas vezes,
portanto com 16 ou 17 anos. Aqui cheguei, confesso, com uma mão na frente e
outra atrás. Fui morar numa pensão, na rua Almirante Barroso, no bairro do
Brás. Trabalhava durante o dia e estudava à noite. - É difícil? - É, aliás,
muito difícil. Quer roupa lavada e passada, pague alguém ou vá lavar e passar
suas roupas. Mas, nunca fui roubar tênis, dinheiro ou qualquer outra coisa de
quem quer que seja, porque era pobre. Casei-me e fui morar na periferia de São
Paulo, Itaim Paulista, onde criamos, eu e a mulher, cinco filhos. Três homens e
duas mulheres. Eu, funcionário da Empresa Folha da Manhã e minha esposa, como
costureira e modelista, trabalhava nas confecções do Brás. Nenhum dos filhos,
graças a Deus, embora criados na periferia de São Paulo foi para o crime. Hoje,
todos eles têm suas famílias, suas casas, seus carros, sem enveredar pelo mundo
das drogas ou do crime. A REVISTA VEJA desta semana traz uma reportagem sobre
cinco bandidos que estupraram, torturaram, desfiguraram quatro meninas em
Castelo, no Piauí e mataram uma delas. Um dos bandidos tem 39 anos. Quanto aos
outros, dois têm 15, um 16 e outro, 17. Na concepção de muitos, eles são
crianças e não sabem o que fazem. Perguntem às famílias das vítimas, o que eles
realmente merecem?
Ora, cadeia
neles. São bandidos. Entendo que é uma questão de índole. Por exemplo, ontem
dia 15/06, um “cavalo” montado numa bicicleta me atropelou. Estava eu na Av.
Milene Elias, Ermelino Matarazzo, cujo sentido de carros é um só e ia
atravessar a pista. Olhei e vi que não havia carros, mas não olhei para o
sentido contrário, ora bolas, era contramão. Mas o cara veio com tudo e só
senti o baque. Parar para socorrer, perguntar se havia machucado, se estava
bem, que nada, ele deu no pé. Um outro rapaz que passava pelo local, veio em
meu socorro. Veja a diferença: o atropelante tem índole má, não adianta, ele é
mau. Já o socorrista poderia ter passado batido, ele não me conhece, nunca me
viu nem na feira, mas tem índole boa, me ajudou a levantar e só me deixou ir
embora quando se certificou de que eu andaria sozinho, apesar dos fortes
arranhões.
Por essas e
outras, sou a favor da redução da maioridade penal. Não como a salvação da
pátria, como alguns pregam, mas, sobretudo porque é preciso acabar com a
impunidade e de forma geral.
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64
11740 – 970 –
Itanhaém – SP.
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