NA MÃO DE DEUS (ANTERO DE QUENTAL)

NA MÃO DE DEUS
Antero de Quental

Na mão de Deus, na sua mão direita,
descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita
a ignorância infantil, despojo vão,
depus do Ideal e da Paixão
a forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,
que a mãe leva ao colo agasalhada
e atravessa, sorrindo vagamente,

selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
dorme na mão de Deus eternamente!

(Livro GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 104)


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