POEMA PORTUGUÊS - FERREIRA GULLAR

POEMA PORTUGUÊS 7
FERREIRA GULLAR

Neste leito de ausência em que me esqueço
desperta um longo rio solitário:
se ele cresce de mim, se dele cresço,
mal sabe o coração desnecessário.

O rio corre e vai sem ter começo
nem foz, e o curso, que é constante, é vário.
Vai nas águas levando, involuntário,
luas onde me acordo e me adormeço:

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:
duplo espelho – o precário no precário.
Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,

de silêncio e silêncio me apodreço.
Entre o que é rosa e lodo necessário,

passa o rio sem foz e sem começo.

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