QUANDO O
OUTONO CHEGA...
Filemon F. Martins
Fim de verão ou quase. O mês de
março terminou e
abril já está em curso. A
natureza faz o seu espetáculo. Uma nova paisagem de outono. Folhas e flores
voam ao sabor dos ventos. Quase sempre, folhas, flores, frutos e borboletas
misturam as cores da terra e do céu. Move-se, nesse cenário, um sentimento
agridoce que faz da minha alma um tabernáculo.
De graça a natureza cria e recria
paisagens, desafiando a dureza dos corações humanos. Meu coração é uma catedral
abandonada, onde a solidão desfila todos os dias, todas as horas e todas as
noites. Inspira-me versos. Fico impregnado de saudade. Se o céu é azul, doce é
o meu pensar. Meu coração não fala, mas sente com emoção, com devoção. É o outono
chegando...
Sou um passageiro da terra, num
trem desgovernado que tento parar. Para ver de novo um rosto que se foi. Estou
consciente: são coisas do coração. Inexplicáveis. Inconcebíveis. Não consigo
parar a condução. A viagem continua. Fico debruçado na janela do tempo.
Contemplo a imensidão do Universo. Descubro que o meu olhar é triste. Vejo-me
por dentro e agora me sinto um passageiro do “TITANIC”. À deriva no mar de
sonhos. Navego com o coração. Descubro decepções em cada porto da vida.
Às vezes, penso que estou voltando.
Mas, por onde já andei? Não sei. Mas sei que sinto dor. Essa dor que desafia os
avanços da Medicina. As teses da Física. No coração há um sopro de um Deus que
ninguém explica, mas que existe. Que movimenta todo o Universo. Mas até quando?
Mistério insondável.
Assim como as folhas, flores,
frutos e borboletas, nada é permanente. Tudo se transforma, já dizia Lavoisier.
Também o ser humano, com suas limitações. Contudo, Cristo é eterno. Detenho-me
diante da ternura do Nazareno. Esbarro no mistério da vida. Da vida que passa
tão rapidamente. No mistério da fé. Quisera ter o dom da fé. Será que me perdi
nas indagações que fiz? Nas respostas que não tive? Enfim, são emoções do
outono. Ou melhor, ANSEIOS DO CORAÇÃO.
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