QUANDO O OUTONO CHEGA...
Filemon Martins
Fim de verão ou quase. O mês de
março que inicia me fascina. A natureza faz o seu
espetáculo. Uma nova paisagem de outono. Folhas e flores voam ao sabor dos
ventos. Quase sempre, folhas, flores, frutos e borboletas misturam as cores da
terra e do céu. Move-se, nesse cenário, um sentimento agridoce que faz da minha
alma um tabernáculo. Tudo se
torna belo.
De graça a natureza cria e recria
paisagens, desafiando a dureza dos corações humanos. Meu coração se transforma
numa catedral abandonada, onde a solidão desfila todos os dias, todas as horas
e todas as noites. Inspira-me versos. Fico impregnado de saudade. Se o céu é
azul, doce é o meu pensar. Meu coração não fala, mas sente com emoção, com
devoção. É o mês de março.
Sou um passageiro na terra, num trem
desgovernado que tento parar. Para ver de novo um rosto que se foi. Estou
consciente: são coisas do coração. Inexplicáveis. Inconcebíveis. Não consigo
parar a condução. A viagem continua. Fico debruçado na janela do tempo.
Contemplo a imensidão do Universo. Descubro que o meu olhar é triste. Vejo-me
por dentro e agora me sinto um passageiro do “TITANIC”. À deriva no mar de
sonhos. Navego com o coração. Descubro decepções em cada porto da vida.
Às vezes, penso que estou voltando.
Mas, por onde já andei? Não sei. Mas sei que sinto uma dor inexplicável. Essa
dor que desafia os avanços da Medicina. As teses da Física. No coração há um
sopro de um Deus que ninguém explica, mas que existe. Que movimenta todo o
Universo. Mas até quando? Mistério insondável.
Assim como as folhas, flores, frutos
e borboletas, nada é permanente. Tudo se transforma, já dizia Lavoisier. Também
o ser humano, com suas limitações. Contudo, Cristo é eterno. Detenho-me diante
da ternura do Nazareno. Esbarro no mistério da vida. Da vida que passa tão
rapidamente. No mistério da fé. Quisera ter o dom da fé. Será que me perdi nas
indagações que fiz? Nas respostas que não tive? Enfim, são emoções de março. Ou
melhor, ANSEIOS DO CORAÇÃO.
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