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REVISITANDO CASTRO ALVES (1847-1871)
Filemon Martins
Antonio Frederico de CASTRO ALVES nascido na Fazenda Cabaceiras, Curralinho, hoje cidade de Castro Alves, Bahia, um dos mais populares poetas do Brasil, escreveu versos admiráveis, entre outros, O NAVIO NEGREIRO – Tragédia no mar, do qual extraímos parte da VI estrofe:
“E existe um povo que a bandeira empresta/pra cobrir tanta infâmia e
cobardia!... /E deixa-a transformar-se nessa festa/em manto impuro de bacante
fria!... /Meu Deus! Meu Deus! Mas que bandeira é esta,/que impudente na gávea
tripudia?!.../Silêncio!...Musa! chora, chora tanto/que o pavilhão se lave no
teu pranto.../Auriverde pendão de minha terra,/que a brisa do Brasil beija e
balança,/Estandarte que a luz do sol encerra/às promessas divinas da
esperança.../Tu, que da liberdade após a guerra,/foste hasteado dos heróis na
lança,/antes te houvessem roto na batalha,/que servires a um povo de
mortalha!...”
Parece que o poeta baiano escreveu estes versos, que considero um dos
mais belos e significativos da Língua Portuguesa, nos dias atuais. Se hoje não
temos a escravatura a que se referia o poeta, continuamos escravos do
analfabetismo, da corrupção, da política de exclusão social, do desemprego, do
crescimento da miséria, da fome, da violência, do medo, dos preconceitos, da
falta de investimentos em educação e saúde, da submissão ao poder econômico.
Aqueles que vivem em seus gabinetes atapetados e não têm contato com o povo,
não percebem ou fingem não perceber como tem aumentado o exército de desempregados
e consequentemente da fome e da miséria, hoje esperando o Bolsa Família do
Governo Federal.
Não malhamos o Brasil, mas sim aqueles que têm tido a responsabilidade
de dirigir os destinos do País e não enxergam o futuro. Nasci e cresci no interior
da Bahia e, em busca de dias melhores, como outros o fizeram, me transferi para
São Paulo e sempre ouvi falar em programas de erradicação do analfabetismo. Aos
70 anos, constato entristecido, que pouco se fez para alcançar tal objetivo. A
educação, no Brasil, assim como a saúde, transportes, saneamento básico e
qualidade de vida, nunca foram prioridades de nenhum governo.
Dizer que a “saúde é universal, que temos salário mínimo, garantias
individuais, direitos sociais e somos uma grande democracia do mundo ocidental”
não enche barriga de ninguém, nem satisfaz a busca da sociedade brasileira por
dias melhores, por um Brasil decente, digno, com oportunidades iguais para seus
filhos, e grande não somente na dádiva da Natureza, que, a bem da verdade nunca
soubemos aproveitar.
Utilizar os serviços e tecnologia de ponta em hospitais como o Albert
Einstein ou Instituto do Coração, em São Paulo, não é a mesma coisa que
frequentar hospitais públicos da rede municipal ou estadual. Estudar na USP e
na FATEC, além de ser menos oneroso, não é a mesma coisa que estudar em
Universidades, que, embora pagas e caras, não oferecem um ensino esmerado.
O que se questiona é que não avançamos. Por que não avançamos? Dirão os
tecnocratas de plantão que a economia do mundo mudou. Sim, mas mudou para
todos. Por que, então, recuamos? Ao longo do tempo, nossos governadores de
Estado nunca deram maior importância aos verdadeiros problemas sociais. Sempre
procuraram soluções paliativas, sem debelarem as causas da doença. A pandemia
do Coronavírus agora escancarou nossa deficiência na saúde pública, porque não
houve investimentos como deveria.
Enquanto isso, as imagens na televisão e os artigos em jornais e
revistas mostram a situação caótica do povo em meio à crise do vírus. Nossos
Hospitais e Unidades Básica de Saúde estão sem máscaras, luvas, aventais e
outros equipamentos de segurança que poderiam ser fabricados aqui mesmo. Há
tantas empresas que atuam na área de confecções e tecelagens paradas. Por que
não fazer contratos com elas para fabricação desses acessórios? Precisamos
valorizar a indústria brasileira, que é capaz e competente. Não precisamos
importar máscaras, luvas e aventais chineses. Corremos o risco de sermos
infectados novamente por esse e outros vírus desconhecidos. Esse fato me fez
lembrar de uma história escrita pela colunista Helena Silveira, da Folha, que
em passeio na Argentina com uma amiga, entrou numa loja e viu uns lenços de
seda de primeira qualidade, comprou e comentou com a amiga: -¨imagina se no
Brasil vou encontrar lenços assim¨? Chegando ao hotel, abriu a embalagem para
admirar a compra e veio a surpresa: a etiqueta dizia Indústria Brasileira.
Vamos dar valor ao Brasil. O Brasil é um continente que merece ser visto, amado
e respeitado pelos brasileiros. Nas próximas eleições não se esqueça desses
políticos corruptos que só querem propina e entregar o Brasil, como outrora
Judas entregou o Mestre por um punhado de moedas. Fuja deles!
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