INTELIGÊNCIA DESVIRTUADA
Filemon Martins
Na época a moeda brasileira era o cruzeiro. O setor em que eu
trabalhava e era responsável chamava-se: - setor de cobranças de assinaturas.
Uma boa equipe com 12 ou 15 funcionários, entre outros, Ana Patrícia Silva,
Paulo Costa, Josemar Maia Reis, Pedro Luiz Nosse, Beatriz, Kioga, Ricardo Luiz
de Oliveira, Luiz Fernando, Geralda de Castro Bento, Cláudio, Reni, Andrea e
Vera. O trabalho era feito manualmente,
pois só havia carimbos, algumas máquinas de escrever e máquinas de calcular
manuais, só depois vieram máquinas elétricas.
O sistema de cobrança era muito precário, a rede bancária estava no
início ainda. A empresa mantinha equipes de cobradores, chamados de
representantes da Folha que eram responsáveis por esta ou aquela região:
visitavam casas, firmas ou portarias de edifícios e recolhiam os pagamentos já
previamente combinados com o assinante. Esses pagamentos poderiam ser efetuados
em dinheiro ou cheques nominais à Empresa Folha da Manhã S/A e uma vez
recolhidos, num determinado dia da semana ele se obrigava a prestar contas na
empresa. No Departamento de Créditos e Cobranças havia muitos guichês, onde o
cobrador prestava conta do que foi cobrado e levava novas cobranças de sua
respectiva região. Nesse momento entrava o funcionário atendente, cujo trabalho
era conferir o recibo e o dinheiro. Em caso de cheque ele carimbava no verso,
anotando seu nome, o número do recibo, data de atendimento ao mesmo tempo em
que rubricava o verso do cheque, definindo aí sua responsabilidade na
conferência do recibo com o cheque. O passo seguinte era encaminhar para
depósito no banco em que a empresa mantinha conta, a somatória dos valores
recebidos naquele dia em dinheiro e cheques.
Por um motivo ou outro e até mesmo a transferência de funcionários
para outro setor, de quando em quando, havia rotatividade de funcionários, mas
o trabalho era o mesmo com manual e tudo.
O setor de vendas se empenhava e o jornal era bem aceito em todos
os setores da sociedade, inclusive, entre os professores e estudantes. Tudo
corria normalmente até que um dia recebi um telefonema de um assinante bravo,
que foi me dizendo: - “não sei quem está me roubando, se é a Folha ou o Banco”.
Como assim? – Perguntei. Ele mais calmo me relatou o problema: - “comprei uma
assinatura do jornal em 3 parcelas de Cr$ 8,00 (oito cruzeiros) cada. Ocorre
que o banco me descontou Cr$ 18 (dezoito cruzeiros), quando o correto é Cr$
8,00 (oito cruzeiros) como está anotado aqui em meu canhoto do talão de cheques”.
Solicitei se era possível me fornecer uma xerox frente e verso do tal cheque,
no que ele concordou e eu mandaria um representante da empresa apanhar o
documento. De posse da xerox do cheque já sabia quem o atendeu e quando se deu
o atendimento. Informei ao gerente e providenciamos o reembolso dos Cr$ 10,00
(dez cruzeiros) ao assinante.
Mais alguns dias outro assinante ligou reclamando e reportando ao
mesmo problema. Fiz o mesmo procedimento e juntei as cópias que provavam a
esperteza do rapaz. A sucessão de telefonemas denunciando o ocorrido passou a
ser rotineira. Por fim, juntei toda a documentação e fui conversar com o
gerente a quem caberia a palavra final. Juntos conversamos com o moço que não
teve outra saída, senão confessar, porque em todas as cópias estava o visto
dele comprovando o atendimento. Confessou: - “em frente ao número 8 ele
colocava o número 1, passando a ficar 18 e no extenso onde havia escrito “oito”
colocava o prefixo “dez”, ficando então “dezoito”. Na somatória, que incluía
cheques e dinheiro, ele retirava Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) em dinheiro, fazendo
bater o total recebido. No fim das contas, não teve escapatória, depois de um
bom puxão de orelha aplicado pelo gerente, ele foi dispensado da empresa.
Considerando-se que era uma pessoa jovem, poderia se recuperar em outra
empresa, evidentemente. No dizer de hoje eu diria que ele saiu “ficha limpa”.
Não sei se aprendeu a lição.
EM
TEMPO: ESSA HISTÓRIA NÃO SE REFERE A NENHUM DOS FUNCIONÁRIOS ACIMA CITADOS,
MESMO PORQUE AQUELE FUNCIONÁRIO FOI DEMITIDO DA EMPRESA.
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