MINHA PRIMEIRA VIAGEM
Filemon Martins

Houve um tempo em minha vida que imaginei ser comerciante de tecidos e bijuterias. Esse desejo começou aos dezesseis anos como sócio do Sr. Aristides Antonio dos Santos, com a firma em nome do meu pai Adão Francisco Martins, uma vez que eu era menor. Posteriormente, aos dezessete anos tornei-me dono do comércio, com o aval do meu pai e também por consenso do Sr. Aristides, agora meu ex-sócio. Toda responsabilidade de comprar e vender ficou comigo e, naquela época era comum aos comerciantes viajarem para São Paulo, onde compravam seus produtos nas Ruas 25 de Março, Jorge Azem, Carlos de Souza Nazaré e outras na região do Mercado Municipal de São Paulo.
Assim, encarei minha primeira viagem a São Paulo com alguns companheiros, entre outros, Aristides, Agileu, Salustiano e João Antonio dos Santos, mais conhecido como Duão, irmão de Aristides e Salustiano.
Nossa hospedaria ficava na Rua Almirante Barroso, no bairro do Brás, de onde íamos a pé para as compras. Eu nada sabia, nada conhecia de São Paulo e certo dia, Duão me convidou para ir à rodoviária com ele. Topei e fui. Nessa época, o Terminal Rodoviário ficava na Praça Júlio Prestes, na região da Luz, no centro de São Paulo. Para chegar lá, tudo bem. Na hora de voltar, Duão, meu companheiro e guia nas ruas de São Paulo, errou o caminho de volta e ficamos andando, andando, perguntando e nada de chegar na Rua Almirante Barroso. Fomos chegar em uma das marginais do Rio Tietê, onde só passavam carros em alta velocidade. Não havia um pé de pessoa e a noite fria já começava a cair. Estávamos perdidos ali naquela rodovia. De repente Duão teve uma ideia: vamos tomar um táxi. Que bom estávamos salvos, exclamei! Ledo engano. Dois sujeitos à margem da estrada dando sinal para um táxi. Motorista nenhum pararia e não parou. Desistimos do táxi. O jeito é tentar sair dali e perguntar novamente e assim eu e ele fizemos. O frio da noite castigava o corpo e a fome dava sinais que ia aumentar cada vez mais. Vamos andando é a solução, dizia o meu amigo. Nossos corpos já reclamavam e pediam um banho, comida e cama. Era preciso chegar e depois de andarmos a tarde inteira e começo da noite, lá pelas tantas da noite conseguimos entrar na Rua Almirante Barroso. Que alívio, graças a Deus, chegamos. Nossos amigos nos aguardavam preocupados. Foi uma experiência sufocante. Mas eu, de corpo cansado e com fome, de boca fechada fiquei. E o Duão também.

- Segundo Pedro Antonio dos Santos, seu filho, João Antonio dos Santos, o Duão nasceu em 17 de setembro de 1926 em Ipupiara, Bahia.
Foi lavrador, garimpeiro, operário em São Paulo, comerciante e construtor. Construiu e ajudou a construir mais de 100 (cem) casas em Ipupiara.

REFERÊNCIAS:
Memória;
Santos, Pedro Antonio dos. A História em Versos. Gráfica Valparaíso, 2002.  

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