REFLEXÕES SOBRE A SEMANA SANTA
Filemon Martins
Tempos modernos. Estamos
vivendo o século XXI. O avanço tecnológico já não assombra mais o globo
terrestre. A informática tem dominado o mundo, com seus tentáculos. Em todos os
setores, a máquina está presente, com seu “código de barras”. Ela faz coisas
que um pobre mortal, como eu, jamais imaginaria. Ninguém escapa dos
computadores. O progresso é incontestável tanto para o bem quanto para o mal.
O Homem foi à lua. Hasteou
bandeira. Recolheu amostras do solo lunar. Conquistou o espaço. Fez descobertas
incríveis. Mas apesar de todo o progresso da ciência, o Homem não consegue ser
feliz. O progresso acelerado, que prometia trazer uma vida melhor para o Homem,
parece ter falhado. Os problemas são universais. Até agora a Humanidade já
assistiu a duas Grandes Guerras Mundiais. E continuam matando, à nossa frente,
embora sob formas diferentes.
Hoje, no Brasil, entre
outros problemas, o que se constata é o descaso de nossas autoridades no que
diz respeito à saúde, à educação, à segurança e à administração pública. A
corrupção campeia por todos os lados. O desconforto é geral. A impunidade reina
em todos os setores do país. Parece que um grupo de brasileiros se acostumou à
desordem e à roubalheira de tal forma que não admitem a tentativa de frear
tantas falcatruas. Ora, sem saúde, sem educação, sem trabalho e sem segurança é
impossível a população obter seu espaço, crescer, produzir e colher os frutos
do seu trabalho. Aliás, uma grande parte do povo não tem sequer um emprego para
garantir sua sobrevivência e de sua família.
Mas é hora de descanso.
Faço uma pausa e me ponho a refletir. O calendário me lembra da Semana Santa. É
a semana da Páscoa. A televisão torna-se mais amena e mostra alguns filmes com
passagens Bíblicas.
Viajo através do tempo.
Volto à velha Palestina do tempo de Jesus. É a semana da traição, paixão e
morte de Jesus. Percorro as ruas da bela cidade de Jerusalém. Embrenho-me no
meio do povo, que se agita com os últimos acontecimentos. Em cada esquina da
cidade, pessoas comentam as ocorrências da semana. Falam da prisão do Nazareno.
Que teria ele feito? Que crime tão hediondo cometera? E recordam os milagres
que o filho de Maria fizera por toda a Galileia, Samaria e Judeia. Mas agora estava preso.
Levaram-no, primeiro, a
Caifás, que o interrogou com desdém. Depois, foi levado ao Sinédrio, onde
Pilatos presidia aquele julgamento. “Tu és o rei dos Judeus?” pergunta Pilatos,
mas o Mestre responde: “Tu o dizes”. E a outras interrogações de Pilatos, o
silêncio do Nazareno transmite com doçura sua inocência. E Pilatos, num
vislumbre de Justiça, porém confuso e temeroso, pergunta ao povo: “Que farei de
Jesus, chamado Cristo?” E então pude ouvir a multidão subornada, replicar:
“Crucifica-o! Crucifica-o!” Pilatos pediu uma bacia com água e lavou as mãos.
Esse gesto entrou para a História, mas não o eximiu de culpa.
Fico perplexo quando penso
na semelhança entre os personagens presentes ao julgamento de Jesus e os
representantes do povo, hoje. Naquele tempo, Judas, o traidor, se vendeu por
“trinta moedas de prata”. E a elite da sociedade era composta por escribas,
fariseus e sacerdotes, líderes religiosos, como Anás e Caifás. Mas o Tribunal
Romano, presidido ali por Pôncio Pilatos, se acovardou ao entregar o Mestre à
turba enfurecida.
E o que temos, nos dias
atuais, representando o povo brasileiro? Com raríssimas exceções, uma casta de
legisladores fingindo estar a serviço do povo, mas zelando apenas e tão somente
dos seus próprios interesses e negócios. São egoístas, hipócritas e corruptos.
Não muito diferente daquele tempo. E todos vão seguindo em direção oposta ao
ensinamento de Cristo quando disse: “Não
ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde
ladrões minam e roubam. Porque onde estiver vosso tesouro, aí estará também
vosso coração. Mirai os pássaros do céu, que não semeiam nem ajuntam em
celeiros, mas Deus os alimenta. Contemplai os lírios do campo, como eles
crescem e florescem e nem mesmo Salomão, em todo o seu esplendor, se vestiu
como qualquer deles”.
Que os Homens dos tempos
hodiernos saibam pensar nesses conselhos. Porque a História comprova que tudo
passa. Imperadores, Reis, Rainhas, Presidentes, Políticos, Nobres ou Heróis,
todos passarão. Mas o sacrifício de Cristo no Calvário e a esplendorosa
ressurreição, naquela madrugada de Luz, restauram, por completo, a Esperança
Perdida. Esperança de Justiça Social. Esperança de Paz. Esperança de Vida.
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