O CONTO DO BILHETE DE ÔNIBUS





O CONTO DO BILHETE DE ÔNIBUS
Filemon Martins


Voltava para casa lá pelas 19h30min. Tomei o metrô e desci na estação Artur Alvim. Rumei para o ponto de ônibus, que me levaria até próximo de casa. Eta viagem longa! Me postei na fila aguardando a chegada do ônibus. Havia muitos passageiros à minha frente. Logo atrás de mim chegou um rapaz de vinte e poucos anos. Discretamente, fiquei observando o cidadão. Levou a mão ao bolso e tirou uma carteira. Abriu-a e começou a mexer, mexer, sem nada retirar. Ao que parece não havia dinheiro e nem bilhete de qualquer espécie. Já falando comigo, disse: “Puxa vida, esqueci meus passes em cima da mesa de trabalho. Acho que vou telefonar e pedir ao colega para guardá-los.” Respondi: - É interessante, sim, pelo menos você vai tranquilo para casa. “É,” disse ele. “Mas o senhor tem um passe para me arrumar?” Tudo bem, abri a carteira, retirei um passe de ônibus e lhe entreguei. Não imaginei que estava caindo no conto do bilhete. Agradeceu e saiu para telefonar, pensei. Meu ônibus chegou, a fila andou e finalmente entrei na condução e me sentei próximo à janela, de tal forma que podia ver os passageiros que aguardavam o ônibus seguinte.
De repente, lá vem o dito cujo, saracoteando, deve ter conseguido telefonar. Entrou na fila e se postou logo atrás de uma moça. Até aí tudo normal. Desviei o olhar por um momento, mas voltei a observá-lo em seguida e (pasmem!) vi a mesma cena. Enfiou a mão no bolso, tirou a carteira, mexeu, mexeu, nada retirou e interpelou a moça. Ela abriu a carteira e deu-lhe um passe de ônibus.
O ônibus partiu e comecei a pensar com meus botões. Será que este indivíduo faz isto com frequência? Era a primeira vez que via aquele tipo de golpe. Durante alguns dias, observei-o e constatei o que já sabia. O larápio aplicava este golpe todos os dias, em pontos diferentes do terminal de ônibus e provavelmente em outros pontos de ônibus de outras estações do metrô. Conclusão: caí no golpe do bilhete de ônibus. Após algum tempo, mudei o itinerário e passei a descer em outra estação metropolitana. Não sei se o malandro ainda continua passando a lábia em outros incautos, como eu. Nunca mais o vi, nem tive notícias dele. E fiquei refletindo: somos golpeados de todas as formas e de todos os lados. Pessoas inescrupulosas e interesseiras estão a todo momento tentando nos enganar. Bastou a chegada do Coronavírus e já tem gente se aproveitando da situação. É aumento de preços, desvio de dinheiro público, obras superfaturadas etc. Até um larápio, bom de lábia, consegue nos ludibriar. Também pudera, para quem caiu no embuste dos políticos, cair no conto do bilhete não é nada. Difícil será aguentar essa ladainha por muito tempo.

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