PRIMEIRA DECEPÇÃO


                                                                 (Foto da internet)


PRIMEIRA DECEPÇÃO
Filemon Martins

Quando entrei para o trabalho na Prefeitura do Município de São Paulo, éramos 10 funcionários, todos concursados. A turma estava eufórica, a maioria vinha de empresas privadas. Eu vinha de uma grande empresa, alguns vieram de bancos, como o Bradesco, o Itaú, outros eram engenheiros e todos bem qualificados. Ali estavam os 10 primeiros colocados no concurso da Região Leste, promovido na gestão de Luiza Erundina, na época filiada ao PT, quando o PT ainda era PT.
Fomos designados para o setor de Recursos Humanos do Hospital Municipal Professor Dr. Alípio Corrêa Neto, em Ermelino Matarazzo, SP.
Observamos que havia um clima de descontentamento entre os funcionários que haviam sido contratados em caráter emergencial pela prefeitura com o aval da Justiça, cujos contratos durariam um ano, data em que foi aberto o concurso com a participação inclusive desses funcionários contratados, quem lograsse êxito no concurso seria chamado, obedecendo a ordem de classificação. Daí a desconfiança de alguns que nos chamavam de intrusos, usurpadores em alusão ao cargo que poderiam perder, caso não tivessem obtido sucesso no concurso.
Mas nossa primeira decepção foi quando, numa reunião, para falarmos de nossas expectativas, dos nossos projetos naquele local de trabalho, uma senhora que nos orientava, lamentou, em voz mansa que, apesar de nossa capacidade, de nosso entusiasmo, a filosofia ali era diferente: - ¨se vocês estão num patamar mais alto, vocês terão que descer até chegarem em nosso nível¨. E continuou: -¨ não são os funcionários daqui que irão alcançar vocês, ao contrário, o sistema, a engrenagem vai fazer com que vocês desçam até nós¨. Sinceramente, eu não acreditei. Ficamos incrédulos com aquela afirmação. Fomos empossados, trabalhamos muito e o tempo passou. Saiu Erundina e entrou Paulo Maluf. Aconteceram coisas do arco da velha. A sala do Diretor, por exemplo, era de vidro transparente, de tal modo que se podia visualizar quem estava lá dentro, se em reunião ou não. Com a nova gestão foi totalmente cortinada e não se observava mais nada. Nossa Diretora de RH determinou que eu fosse até lá ¨pegar¨ a assinatura do Diretor e depois deveria ir até Al. Santos, centro de São Paulo, onde ficava à época, a Secretaria Municipal da Saúde, entregar a documentação. Ocorre que ao chegar na sala do Diretor, a secretária informava que ele estava em reunião e nunca assinava os documentos. Depois de muita insistência e cobrança da Diretora, ela foi lá comigo e acabou descobrindo que o Diretor nunca estivera lá. Nesta época e no mesmo hospital, havia uma sala que era ocupada por algumas mulheres, um conselho representando os moradores da região, fiscalizavam, cobravam a manutenção de equipamentos quebrados e usados no hospital, falavam com vereadores da região, enfim exerciam o papel de cidadãs. A sala foi fechada e elas proibidas de entrarem no hospital. Essa era a Administração de Paulo Maluf. Ai eu me lembrei da afirmação daquela senhora em nosso primeiro dia de trabalho. Mas o tempo passa e se encarrega de consertar tudo. Outra coisa escabrosa: - quando eu ia na Al. Santos (Secretaria Municipal da Saúde) entregar a documentação, primeiro eu levava ao setor de transporte uma requisição que justificasse minha ida lá, o chefe escolhia uma viatura e lá ia eu para a Secretaria Municipal da Saúde, não sem antes receber uma informação de que deveríamos ir até Santana abastecer o carro num determinado posto de combustível, para depois chegar na região da Av. Paulista. A princípio, eu ficava curioso, e comecei a indagar do motorista, ora ao sair da zona leste vamos passar por vários postos de combustível e você precisa ir até Santana abastecer e ele me respondia: - sei não, é ordem do chefe. Todos os carros são abastecidos lá em Santana. E eu retrucava: - já entendi, combustível superfaturado. E foi aí que eu fui, por concurso público, para o Judiciário Federal. 

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