OBSERVAÇÕES DO ARDAGA SOBRE O LIVRO DE FILEMON MARTINS

 


OBSERVAÇÕES DO ARDAGA (ANTROPÓLOGO E EDUCADOR) SOBRE O LIVRO DE FILEMON MARTINS:

 


Caras irmãs e caros irmãos espalhados pela Mãe Gaia:



“Depois de passarmos pela ditadura militar, depois de recuperamos a democracia, o povo readquiriu o direito de votar e escolher seus governantes. Alimentamos novos sonhos, novas esperanças, imaginamos um
Brasil digno, decente, menos desigual e mais justo para com seus filhos, mas a falta da caráter, a podridão, a ganância, a desonestidade de nossos políticos cresceram assustadoramente, amparados pela impunidade que toma conta do País.

A corrupção, ou melhor, os corruptos desviam verbas da educação, saúde, habitação, segurança, saneamento básico, transportes, destroem florestas, sugando o suor dos trabalhadores e dos aposentados do Brasil inteiro, para suas contas bancárias no Brasil e no exterior.
Pior é que, aos poucos, novos escândalos vão surgindo e os velhos vão caindo no esquecimento.”

“Não faz muito tempo, tivemos um presidente neoliberal que chamou os aposentados de vagabundo. Uma ministra de estado disse que o povo era apenas ‘um detalhe’. Para o ex-presidente da Câmara dos Deputados
Severino Cavalcanti, ¨reclamar do nepotismo é coisa de fracassado’.
Agora Lula diz que o brasileiro é comodista, ‘incapaz de levantar o traseiro para buscar juros mais baratos’.
(...)
Ao contrário do que propalava em sua campanha eleitoral, o presidente acolheu em seu governo pessoas de reputação duvidosa, para fazer
reformas e gerir recursos públicos. Como extirpar a corrupção e a fraude, se o próprio governo mantém em seu seio, devedores do INSS e fraudadores de todo jaez?

(...)
Imaginem se o presidente e o pelotão de elite do PT estivessem na oposição, o que diriam da nomeação de ministros que frequentam as páginas dos jornais com escândalos todos os dias? E o que dizer das
promessas de campanha feitas ao sabor do vento, que o presidente não cumpriu e jamais irá cumpri-las?
O que existe, de fato, é um plano de poder. Não importa os meios. Não importa como. O que antes era antiético agora é ético, o que era imoral, agora é moral. Tudo se resolve com um troca-troca de favores
a muque do ‘mensalão’.”

“É necessário que o cidadão brasileiro ponha sua memória a funcionar e, através do voto, possa expurgar do Congresso Nacional estes ‘profissionais’ da política que nada acrescentam ao país, mas estão
preocupados apenas com suas contas pessoais. Não é tarefa fácil, porque de um lado, estão os representantes dos banqueiros, dos capitalistas, dos defensores das privatizações do patrimônio público, cujos resultados já conhecemos: o dinheiro escapa pelo ralo da
improbidade administrativa e o país fica sem patrimônio, sem dinheiro e continua devendo e... muito.
Do outro lado, estão os falsos moralistas que pregavam a ética, a moralidade e uma vez no Poder, tornaram-se elite e armaram esquemas mirabolantes para engordarem suas contas pessoais. Não é possível
confiar em quem prometeu e nada fez para cumprir do que prometera. Não é prudente continuar com quem teve em seu redor uma verdadeira quadrilha apropriando-se do dinheiro público, no entanto ‘não sabia de
nada, nunca viu nada’ e consequentemente não fez nada. A elite, os banqueiros, os capitalistas e a Comunidade Internacional não têm do que reclamarem.
Mas o povo que acreditou e confiou, agora está diante do descalabro atual e com certeza tem do que reclamar: menos educação, menos emprego, menos saúde, menos segurança, menos investimentos, menos
pesquisas e mais impostos, mais evasão de divisas, mais corrupção, mais falcatruas e mais descaso com as estradas brasileiras. Acorda, Brasil!”


Fonte: “Fagulhas”, de Filemon F. Martins, Editora Scortecci



Como é sadio na convivência intelectual há muito em que concordamos e há muito, também, que vemos diferente. O Filemon (ainda) vê, no país uma democracia. Eu já não só não a vejo, mas afirmo: NUNCA houve aqui.
Há uma coisa etiquetada de “democracia eleitoral”. Que nós (reles povão) permite escolher entre merda e bosta de quatro em quatro anos.

Sem que fizesse alguma diferença substancial. E mesmo aquilo que promete ser diferente e contra, antes de chegar ao doce bolo do poder vulgo carta branca (verde-amarela?) de roubar o que quiser e puder,
imediatamente após eleição vitoriosa cumpre com o papel secular: rouba a todo vapor. (Você mesmo o descreveu acima.)
Também por isso repito: Enquanto o povo desumanizado – do Mundo – não assimilar as oportunidades inerentes aos anarquismos (plural!) e, também, seus feitos enquanto por períodos breves como na Espanha pré-fascista em Ação através de governos genuinamente populares – e não
manter interiorizadas as mentiras e distorções implantadas pelos (que estão no poder) que têm razão de temê-los (as inerentes oportunidades
dos anarquismos), não haverá mudança essencial. E se a Rede Sustentabilidade da Marina e da Heloisa milagrosamente chegassem pelo funcionalismo da “democracia eleitoral” ao poder, e se ela – a Rede –
mais milagrosamente ainda, não se corrompesse..., ainda estaríamos longe de uma Democracia Plena. Do efetivo Poder do Povo.

Tampouco acredito mais (já acreditei!) que nem você naquela máxima do “Bom Povo Brasileiro” vítima dos governantes ruins. O Brasileiro não
só vota nos bandidos por ingenuidade. Mas porque admira. E faria a mesma coisa se estivesse numa posição privilegiada (nos picos do poder).
É, num lado explicável pelo poder corrosivo do próprio poder. Más é, também enraizado culturalmente no povo: o Jeitinho Brasileiro é que criou e recria com cada dia o monstro do Jeitão Brasileiro. Da Liga dos Campeões da Corrupção. Onde só craque joga. Do Sarney até
Odebrecht. Os intocáveis da Cleptocracia que mata quem estiver no seu caminho.

E a esperança que, como se diz aqui com frequência, nunca morre, no meu caso já está meio moribunda. Porque com cada ano que passa (tô falando agora da minha permanente experiência empírica aqui no
Nordeste) percebo que fica cada vez mais difícil de encontrar uma pessoa com a qual sequer conversar, trocar ideia. Porque trata-se de um segmento de Brasileiras e Brasileiros em vias de extinção. Não é acaso que sempre quando puder me “refugio” nas vilas mais remotas da Chapada Diamantina (de preferência SEM luz-para-todos). Onde ainda há um punhado de velhos não-contaminados pelo ópio bombeado diariamente nas cabeças da nação. Que, entretanto, não conseguem mais passar seus valores (e sua independência) pros seus filhos e netos. A concorrência da cultura do fútil e da submissão e do consumismo-über-alles divulgada e atiçada pela mídia de idiotização e do controle em massa é
adversário forte demais pra esses velhos. Se resignam. Esperando a morte levar eles pro um mundo menos alienado.
Gosto muito, entre alguns outros aspectos culturais da nossa região, uma boa cachacinha artesanal. E são uns dos poucos momentos felizes que tenho quando reunido com uns velhos (quase todos eles acima de 70)
num botequim numa vila nalgum ermo por aí. Gente que ainda tem a qualidade de ouvir. Quase extinta já! Gente que só fala quando tem algo a dizer. Mais rara que nem diamante. Não só aqui, na Chapada Diamantina!
Mas no momento em que entra um dos típicos “novos baianos” (ou pernambucanos ou paraibanos, tanto faz) pago e corro. Pouco ou nada importa se for roceiro ou (pior!) “doutor da cidade”. Porque é
garantia que a interminável e insuportável gritaria de banalidades repetitivas (pré-fabricadas e inseridas no sujeito) começa. Tortura (pra mim) que não me submeto mais. Antes amigo-da-onça! Prefiro tomar
minha pinga boa em casa ou no mato, muito obrigado.
E são ESSES (formados por Xuxa e Faustão e Datena...), meu caro amigo otimista Filemon, que estão substituindo gradativamente os velhos. Em termos de VOTOS inclusive.
E isto não me dá esperança nenhuma (que o país acordará). Antes medo. (Mas espero muito de estar errado! Oxalá!)

 

Um Mundo – Um Amor – Muitas Culturas


PS: Escrevendo (e assim revivendo) estes horrores reais do país me custa muita energia. E só consigo, que nem agora mesmo, numa escura tarde chuvosa (aleluia!) com um contrapeso emocional. Escutando a belíssima gravação de Rigoletto de Verdi do ano 1989 com Luciano
Pavarotti, June Anderson (...) e a “Orchestra del Teatro Comunale di Bologna”.

Isto (me) ajuda a aguentar de ter que remoer o que vivemos aqui, diariamente, ainda em escrito.

 

 



 





 


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