QUEM FOI DURVAL RIBEIRO DOS SANTOS?




QUEM FOI DURVAL RIBEIRO DOS SANTOS?

Filemon Martins

 

DURVAL RIBEIRO DOS SANTOS, mais conhecido como Sr. Benício ou Sr. Dudu nasceu na Chiquita em 10.04.1905, filho de Fulgêncio Ribeiro dos Santos e Cassimira Maria do Rosário. O Sr. Fulgêncio nasceu na Mata do Evaristo em 1867 e Cassimira, em Gameleira do Assuruá, em 1879.

Durval Ribeiro dos Santos casou-se com Jovelina Francisca Barreto, também conhecida como Jove, nascida em Brumado em 17.10.1908. Juntos, tiveram os filhos, Vanderlina Ribeiro Martins (falecida), Adão Ribeiro Martins (falecido), Nair Ribeiro Barreto (Ipupiara, 30.08.1936), depois de casada Nair Ribeiro dos Santos, Abel Ribeiro Martins (Ipupiara, 28.11.1938), Arlinda Barreto Martins, depois de casada, Arlinda Barreto de Queiroz (falecida), Isbela Ribeiro Martins (Ipupiara, 05.02.1946), depois de casada Isbela Martins dos Santos, Edite Ribeiro Martins (Ipupiara, 24.08.1949), depois de casada Edite Ribeiro dos Santos.

Durval Ribeiro ou Benício, era de uma numerosa família de 13 irmãos, a saber: Marcolino Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1899), Joaquim Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1900), José Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1901), Adelino Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1902), João Ribeiro Neto (Chiquita, 1903), Genésio Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1904), Galdêncio Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1906), Manoel Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1907), Reginaldo Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1908), Solange Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1909), Ana Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1910), Antonia Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1911) e finalmente Angélica Ribeiro dos Santos (Chiquita, 1913).

O Sr. Benício foi amigo fiel do meu pai, Adão Francisco Martins, e sua presença foi marcante em nosso convívio. Sempre lúcido e dono de uma memória prodigiosa. Muito nos ajudou prestando informações sobre acontecimentos políticos e contando histórias interessantíssimas sobre lutas e fatos ocorridos em sua juventude.

Conversar com ele era um momento prazeroso. Foi meu companheiro de viagens em várias ocasiões de São Paulo à Ipupiara e vice-versa.

Durval Ribeiro sempre foi muito generoso e nessas viagens, costumava levar em sua bagagem sacos cheios de roupas, sapatos e presentes que os filhos e filhas lhe davam e também parentes e conhecidos lhe doavam para, chegando em Ipupiara e também na cidade Serra do Ramalho, na Bahia, onde morava sua filha Nair Ribeiro dos Santos, distribuir ao povo, conforme relato de Gil Ribeiro: - ¨Sim, levava presentes pra nós também. Lembram-se meninas? Eu não via a hora dele abrir os sacos, eram sacos mesmo que levava de São Paulo. E ainda distribuía as roupas e sapatos para o povo. Lembro-me das filas que fazia pra pegar aquilo que servia e que ele sempre solidário levava de São Paulo. Nós falávamos que as roupas tinham cheiro de São Paulo¨.

Converteu-se ao Evangelismo e tornou-se membro da Igreja Batista, na Rui Barbosa. No final de 1969 e início de 1970, os Batistas se dividiram, fundando então outra Igreja Batista, com sede na Praça Santos Dumont, sendo chamada de Primeira Igreja Batista. Aquela com endereço na Rua Rui Barbosa, passou a se chamar Primeira Igreja Batista Independente de Ipupiara, hoje Igreja Batista Renovada de Ipupiara, da qual o Sr. Durval Ribeiro dos Santos (Benício) fez parte. Depois da Bíblia, ele tinha um livro de estimação: ¨Meu Livro de Histórias Bíblicas¨. Nele está registrado: ¨Livro meu muito estimado. Tesouro do meu saber, grande desgosto terei, se algum dia te perder¨...

Sua neta Adriana Martins dos Santos, que esteve presente nas comemorações do seu centenário, contou um pouco da história dele em seu depoimento: ¨Querido avô Durval! Homem incrível, bom, amoroso e temente a Deus... diversas vezes o via ao pé de sua cama ajoelhado e orando... falava eu oro pela minha família inteira. Gostava de um paletó, chapéu e perfume! Lembro-me quando íamos visitá-lo sempre ficava esperando o ônibus, e quando chegava era aquela alegria... aquele abraço forte... pegava no nosso rosto, olhava nos olhos e dava aquele abraço... que saudades¨!!!   

Conforme relato de sua bisneta Gil Ribeiro, ¨quando ele estava na casa de sua filha Nair, na Serra do Ramalho, Bahia, pegava sua Bíblia e dizia que ia falar com Deus. Eu tinha apenas 9 anos de idade e não entendia, mas sempre curiosa, um dia perguntei: como o senhor fala com Deus, Vô? E por que? Ele sabiamente me disse: filha, sempre que a gente for fazer alguma coisa, temos que pedir a permissão de Deus, e eu só viajo se ele permitir... Foi o suficiente pra eu me calar, então não questionei mais nada e me contentei com suas sábias palavras, simples e cheias de muita verdade. Acredito que ficou em meu subconsciente e não o esqueci jamais... Seu exemplo foi uma inspiração para mim, do quanto é importante primeiro ouvir a voz de Deus antes das nossas decisões... Gratidão¨!

Sua neta Ione Martins dos Santos Mello também ouviu do avô uma história, que ele menciona em sua entrevista, sobre a construção por parte de sua mãe de um altar, dedicado ao ¨santo¨ dela, Santo Antonio.

Ainda jovem costumava viajar com homens mais velhos, valentes e que andavam armados, numa época em que o interior da Bahia era assolado por ataques de grupos, chamados REVOLTOSOS. Às vezes eram malfeitores de cidades vizinhas que se aproveitavam da situação para aterrorizar, ainda mais, os sertanejos. Contou-me que estavam em Brumado, hoje Ibitunane em companhia de alguns homens para defender o lugarejo de um possível ataque destes meliantes, quando um deles lhe disse: - você é jovem, então vai ficar aqui dentro de casa e para garantir sua segurança, entregou-lhe um CRAVINOTE, tipo de arma antiga, usada naquela época. Ele ficou encabulado, e pensou nunca peguei numa arma, não sabia nem mesmo como funcionava. E o bando de homens ganhou a rua para fazer trincheiras. Num dado momento, ele, curioso, começou a mexer na arma, quando sem saber e sem querer, a arma disparou. Foi um estampido ensurdecedor.

De imediato escutou um barulho na rua e percebeu que a casa estava cercada pelos próprios homens que imaginavam ter sido um ataque. Ele se explicou: eu estava testando a arma¨.

Quando eu o conheci lá pelos idos de 1957/1958, ele já residia na Rua do Alto, em Ipupiara. A casa era grande e possuía um quintal encantador. Quando eu entrava lá, ficava extasiado: pés de manga, romã, goiaba, pinha, tamarindo, mamão, mexerica, entre outras frutas. Um verdadeiro pomar, sempre bem cuidado por ele e sua esposa, dona Jove, como todos a chamavam.

Trabalhou na roça desde os 10 (dez) anos de idade, capinando a terra e plantando milho, feijão e mandioca. Era primo legítimo do coronel Artur Ribeiro, figura importante na política local e na emancipação do município de Ipupiara.

Estudou alguns meses com Nestor Ribeiro dos Santos e também com seu tio Reginaldo, quando aprendeu as primeiras letras.

Foi Juiz de Paz na cidade de Ipupiara, onde realizou muitos casamentos, inclusive em Morpará, cidade vizinha e atuou na conciliação de contendas, dirimindo dúvidas e apresentando soluções para conflitos na zona rural. 

Por ocasião do seu centenário em 2005 concedeu uma excelente entrevista a REINATO SILVA, publicada no jornal IPUPIARA, órgão Informativo da Prefeitura de Ipupiara, junho/julho-2006.

Pergunta – Conte-nos um pouco das suas recordações históricas sobre Ipupiara e também das lembranças de sua infância?

Durval Ribeiro: Lembro que Ipupiara, Barra do Mendes e Morporá pertenciam a Brotas de Macaúbas e que muita gente já se hospedou em minha casa, quando vinha pagar impostos em Brotas. Lembro também que quando criança, minha mãe, muito devota de Santo Antonio, me pedia para ir ao mato pegar madeiras retas para fazer o altar para Santo Antonio, que era celebrado no dia 13 de junho. Ela também me pedia para beijar o Santo, como eu não queria, apanhava muito.

Quando eu tinha 10 anos, em 1915, ia para Barra do Mendes comprar farinha. Conheci os coronéis Horácio de Matos e Militão Rodrigues Coelho. Um pouco antes disso, segundo os mais velhos me contavam, o coronel Horácio de Matos, vindo da Chapada Velha (hoje Lençóis), cercou Barra do Mendes, deixando-a sitiada. Em todas as entradas da cidade havia uma tocaia vigiada pelos jagunços de Horácio de Matos, ninguém podia entrar, nem sair.

Diante da pressão, o coronel Militão se rendeu e fugiu vestido de mulher, com uma trouxa de roupas na cabeça (parecendo uma lavadeira de roupas da época), para despistar Horácio. Depois disso, seguiu para Pilão Arcado, onde morreu, provavelmente desgostoso com tudo que havia acontecido. A arma de Horácio se chamava Marinheira.

Pergunta: Que momento da história de Ipupiara mais marcou sua vida?

Durval Ribeiro: A crise de 1932, por ver tanta gente sofrendo. Lembro que muita gente passava na porta da minha casa, na Chiquita, pedindo comida. Nesta época houve uma seca muito grande e a agricultura de nossa região não produziu nada, como não havia estradas e transportes rápidos para vir de outras regiões, o povo passou muita fome e muita gente morreu. Comiam-se coisas do mato para não morrer de fome.

Recordo-me também de quando ajudei na construção da Igreja Batista (hoje Igreja Batista Renovada), em 1926, quando carreguei muita madeira, em carro de boi da Mata, próximo à Umbaúba e da Lagoa do Meio, juntamente com Ismael (popular redondo, irmão do finado Chico Bola) para fazer as linhas usadas na cobertura da Igreja, que na época parecia mesmo uma casa comum. Ajudei no que precisou.

Pergunta: Do que o senhor mais sente saudade da Ipupiara de antigamente?

Durval Ribeiro: Sinto saudade dos meus tempos de escola. Tinha vontade de estudar, mas não pude. Fui apenas dois meses para a escola, mas não pude continuar. Além de ter que ajudar meus pais na roça, naquela época escola era rara e paga, e nem sempre nossos pais podiam pagar.

Pergunta: O que tinha antigamente em Ipupiara que deveria continuar existindo até hoje?

Durval Ribeiro: O respeito e obediência a Deus.

Pergunta: Comente um pouco sobre suas aventuras no garimpo e sobre o Brejo do Buriti, conhecido por Comércio Velho.

Durval Ribeiro: Trabalhei muito no garimpo de diamante e carbonato. Certa vez trabalhei em um garimpo próximo à Cachoeira do Brejão, onde entrei, juntamente com um companheiro, em uma gruna (gruta) que só nos coube rastejando. Buscávamos diamante ou carbonato, mas não encontramos nada. O cascalho tinha que ser trazido em uma espécie de trouxa de pano, que era amarrada no dedo do pé. Quando saímos da gruta tínhamos perdido todo o cascalho e eu prometi que, com fé em Deus, nunca mais entraria em uma gruta, e não entrei mesmo.

Quanto ao Brejo do Buriti, tenho a dizer que já vendi muito toucinho na feira de lá, levava no lombo de burro. Fica próximo ao Vanique. Por causa do garimpo de diamante e carbonato, houve uma grande aglomeração humana no local, formando-se uma pequena vila, chamada inicialmente de Brejo do Buriti, com comércio forte e até feira. Quando o garimpo acabou a vila também acabou, restando hoje apenas uma pessoa residindo no local.

Gostava de escrever e receber cartas. Escrevia para os filhos e filhas, netos e netas e se interessava por tudo. Nada lhe escapava.  

Faleceu em Ipupiara aos 103 anos de idade. Exatamente no dia 10.04.2008. Um dia antes passou mal e foi levado para o hospital. Sua filha Isbela Martins dos Santos lhe lembrou: - o senhor precisa ficar bom para comemorar seu aniversário amanhã e ele lhe respondeu: ¨minha comemoração será no céu¨. E assim que passou para o dia 10, completando os 103 anos, faleceu. Seu filho Abel Ribeiro Martins estava no hospital e relatou: ¨ele abriu os olhos, olhou em volta e perguntou e os outros? Abel respondeu: ¨não estão aqui¨. Ele então aproximou a mão do filho Abel ao coração e partiu.

Deixou 6 filhos, sendo 4 mulheres e 2 homens. 14 netos, assim distribuídos: Nair – 7 filhos; Isbela – 3 filhos; Arlinda – 2 filhos; Adão – 1 filho; Abel – 1 filho. 26 bisnetos; 17 trinetos (todos por parte de Nair Ribeiro dos Santos), 2 tataranetos também por parte de Nair.

 

 

Obs.: Um agradecimento especial a Adriana Martins dos Santos, Ione Martins dos Santos Mello (netas) e Gil Ribeiro (bisneta), pelas informações prestadas via whatsApp, sem as quais seria impossível escrever este texto.

 

Referências:

Leite Santos, Arides. História dos Batistas em Ipupiara.

Martins, Mário Ribeiro e Filemon Francisco. Dicionário Genealógico da Família Ribeiro Martins.

Silva, Reinato. A biografia de um morador centenário.         


 

Comentários

Ione disse…
Filemon! Que alegria ler esse texto. Agradeço o interesse em divulgar o passado do amado avô Durval e, também de nossas famílias em comum. São relatos muito relevantes e que nos acrescentam em conhecimento, informações e exemplos de pessoas muito queridas que fizeram e continuam a fazer parte de nossa história! Grande abraço.