MALANDRICE
Filemon Martins
Hoje
confirmei o que já sabia. Infelizmente, no Brasil somos induzidos a aprender a
malandragem, qualquer que seja ela.
Entrei
numa agência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, na Avenida Amador
Bueno da Veiga, na Penha e me deparei com o local, onde se retiram as senhas
para atendimento. Fui de ímpeto e quase retiro uma senha para atendimento
normal, quando observei a tempo, uma caixinha logo acima indicando as senhas
¨preferenciais¨. Peguei a senha de nº 17, não sem antes verificar o nº da senha
que eu quase retirei para o atendimento normal.
Algumas
cadeiras estavam à disposição com os dizeres: ¨prioritário¨. Ocupei uma delas e
passei a observar o painel de chamada. Fiquei esperando e o painel só chamava o
atendimento normal e pasmem a senha que eu recusei antes foi chamada e mais outras,
outras. Paciência tem limites, porque até aquele momento não havia sido chamada
sequer uma preferencial. Com a serenidade que Deus me deu, perguntei: - e
preferencial, vocês não chamam? A moça me olhou, pediu desculpas e disse o
senhor será o próximo. De fato, fui o próximo, mas me vi no direito de comentar
com ela, isto quer dizer que na próxima vez devo pegar duas senhas, aquela que
chamar primeiro eu vou. Ela, então, me confessou, mas é assim que o pessoal
faz. Retruquei, não imaginei que fosse assim. Temos que aprender essa
malandragem. Devo esclarecer que conheço outras agências em cujo painel
aparecem as chamadas para o atendimento normal e o preferencial. Não sei porque
essa filosofia muda de agência para agência.
E
pensar que houve um tempo em que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos
foi uma das melhores empresas do Brasil. Mas o tempo passou. Os diretores
mudaram. A geração competente está em extinção. Agora, tudo só funciona se for
privatizado. É o que dizem os oportunistas de plantão, acostumados a
desfalques, roubos e corrupção.
Entendo
que para funcionar bem, não é questão de ser privatizada ou não. É uma
administração sadia e voltada para atender bem o cidadão. Quando os chefões
falam em privatização está embutido disfarçadamente o objetivo de não querer
trabalhar, e pior, solapar o dinheiro que advém de propinas que são
transformadas em apartamentos luxuosos em outros países e contas bancárias em
paraísos fiscais, como ocorreu em grandes privatizações, como, por exemplo, a
Companhia Vale do Rio Doce, que na época era a maior empresa exportadora de
ferro do mundo. Os argumentos em favor da privatização eram muitos, mas sempre
os mesmos: a empresa era deficitária, cabide de empregos. Depois de
privatizada, no ano seguinte deu lucro estratosférico, alguns figurões ficaram mais
ricos do que já eram. O assunto é sério, mas este pequeno episódio me fez
lembrar a decepção que tivemos com um amigo. Na empresa haveria um sorteio de
alguns brindes e a diretora pediu que cada funcionário escrevesse seu nome num
papelzinho e dobrasse colocando numa caixa. Feito isso, o sorteio começou. Um
dos sorteados foi o nosso amigo, mas o sorteio continuou com outro ganhador. De
repente mais um sorteado nada menos que o nosso amigo. Aí a galera gritou, como
se o seu nome já saiu? Que decepção: ele havia escrito vários papéis com o seu
nome. Era uma brincadeira, mas faltou HONESTIDADE, um artigo escasso para
muitos políticos, gestores e administradores do Brasil.
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