UMA HISTORINHA DO FILEMON
Filemon Martins
Quando jovem até os dezessete anos de idade dei muito trabalho a
Dona Nina, minha mãe, no que diz respeito à alimentação. Desde cedo comia de
tudo. O problema era na apresentação do prato: arroz, feijão, carne, maxixe,
quiabo ou qualquer outra comida deveria vir sempre separados.
Se misturasse, para mim, perderia o sabor. E fui assim
complicado até os dezessete anos. Nessa época, eu já trabalhava na loja do
senhor Aristides Santos e, posteriormente, em sociedade com ele, abrimos uma
loja na praça Dr. Getúlio Vargas, num imóvel de meu pai. Foi aí que o meu sócio
senhor Aristides me sugeriu que eu deveria conhecer São Paulo e fazer minhas
próprias compras, que até então, é bom registrar, eram feitas por ele.
Consultei meu pai e fiz minha primeira viagem a São Paulo. Além
de Aristides, alguns amigos já eram veteranos nessas viagens, como, Duão,
Agileu, João da Cruz, Durvalino e Salustiano Santos, entre outros.
Naquela época, nossas compras eram feitas nas ruas 25 de Março,
Jorge Azem, Carlos de Sousa Nazaré e outras na região do Mercado Municipal.
Certa feita, eu e o Duão voltávamos das compras, quando a fome apertou. Já
passava das 13h e a barriga clamava por comida. Sempre guiado por algum
companheiro, nesse caso, Duão que já conhecia o pedaço, resolvemos almoçar num
bar/restaurante num local conhecido como ¨5 esquinas¨, no bairro do Brás.
Pedimos o prato comercial, também conhecido como ¨prato feito¨, onde tudo é
misturado e num outro pratinho veio um pão francês. Estranhei. Na Bahia, o
costume era tomar café com o pão, mas no almoço era a primeira que vez que via.
A fome falava mais alto e assim bati tudo, inclusive o pão francês.
De volta à Ipupiara, na Bahia, minha mãe observou que eu passei
a comer tudo junto e misturado. Desde então, São Paulo me ensinou a viver e
toda aquela frescura ficou para trás. Hoje continuo comendo maxixe, quiabo,
jiló frito, refogado, empanado, abobrinha, chuchu, berinjela e o que vier.
Aprendi a viver. Aprendi a comer, graças a São Paulo.
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