ASSOMBRAÇÃO

 ASSOMBRAÇÃO

Filemon Martins

 

Ele marcava presença em quase todas as feiras da região. Contudo, por ser mais próxima, ele preferia a de Ipupiara, onde chegava logo pela manhã, sempre a cavalo. De início comprava gêneros alimentícios para consumo de sua família durante a semana e eventualmente alguma roupa, chapéu e outros apetrechos que o sertanejo gosta de usar. Feito isso, encontrava os amigos e ficava bebericando uma pinguinha de bar em bar. Nesse dia exagerou e ficou tirando uma soneca na casa de um amigo. Sem condições de montar em seu cavalo, quase se esqueceu de casa. Quando acordou meio atordoado e de ressaca já era noite de lua cheia. Lembrou-se que precisava voltar, afinal tinha casa, mulher e filhos, todos estariam preocupados com sua ausência e sem a alimentação que ele viera comprar.

Além do mais, não era tão longe assim e seu bom cavalo o levaria à sua casa. Despediu-se do amigo, montou em seu cavalo e partiu, primeiro em direção a Ibipetum, distrito da cidade e depois pegaria a velha estrada de terra até seu lugarejo.

Ocorre que lá pelas tantas, entre Ipupiara e Ibipetum começou a enxergar um vulto de mulher vestida de branco e ela parecia acenar para ele; balançava de um lado para outro com a conivência da lua iluminando a estrada e a encosta da serra. Assustado, segurou firme as rédeas do seu cavalo e parou. Olhava, olhava e quanto mais olhava tinha certeza de que estava diante de algo estranho que lhe dava medo. A coruja piava entre os galhos das árvores aumentando-lhe ainda mais os arrepios. E o medo era tamanho que resolveu voltar e pedir ajuda ao amigo, que ficou surpreso com o relato dele.

- Que é isso meu amigo, você bebeu demais e agora está vendo coisas. Vamos lá, então. E os dois montados em seus cavalos partiram para a estrada à noite com lua cheia em direção à suposta assombração. Quando se aproximaram bem devagar, o amigo comentou que ventava muito, mas foram chegando cada vez mais perto e o vulto parecia mesmo balançar de um lado para outro. Mas os dois pareciam intrépidos e dispostos a desvendarem aquele segredo, até que o amigo falou: - sua assombração é apenas um galho de árvore que se pendeu sobre a estrada e com o vento ficou a balançar nessa dança que vai e vem. O reflexo da lua entre os galhos da árvore e o medo se encarregaram do resto. “Nem tudo que parece, é”.  

 

 

 

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