SÃO PAULO ANTIGA NA VISÃO DO MEU AVÔ

 SÃO PAULO ANTIGA NA VISÃO DO MEU AVÔ

Filemon Martins

 

Velhos tempos. Estou me referindo às décadas de 20, 30, quando meu avô Gasparino Francisco Martins, nascido em Jordão de Brotas, em 25.05.1888, ainda rapaz, influenciado por outros rapazes, veio conhecer a capital paulista. Naquela época, a viagem para São Paulo era uma verdadeira aventura, um desafio. Iniciava em Ipupiara, antigo Jordão de Brotas, no lombo de um cavalo até Morpará, Bahia. Daí seguia-se de vapor, que poderia ser o SÃO SALVADOR, o WENCESLAU BRÁS, o MAUÁ ou o BENJAMIM GUIMARÃES, o mais lendário de todos, pelas águas do Rio São Francisco, carinhosamente chamado de Velho Chico, até Pirapora, Minas Gerais. Daí em diante viajava-se de trem até São Paulo. As hospedarias ou as pensões, geralmente ficavam no nostálgico bairro do Brás, onde ele teria se hospedado. Com amigos ele foi conhecer o centro da cidade de São Paulo naquela época. É possível que tenha visitado a Praça da Sé, a Rua Direita, a Rua Quinze de Novembro, Rua Boa Vista, Praça Ramos de Azevedo, Largo São Francisco, Largo São Bento, Praça Dr. João Mendes, Av. São João, Av. Ipiranga, Praça da República, entre outras.

Meu avô, que veio dos Brocotós do Sertão, não estava acostumado a ver tanta gente, tanto movimento e estranhou muito. Gente que vai, gente que vem em constante movimento e para lá, para cá, cada um com seu motivo: pegar condução para trabalhar, voltar pra casa, ir ao médico, ao escritório, às compras etc. Todo esse burburinho mexeu com meu avô.

Algum tempo depois ele retornou ao antigo Jordão de Brotas, hoje Ipupiara, no agreste da Bahia. Lá chegando e em conversa com os amigos, parentes e aderentes, um deles quis saber o que ele havia achado e quais as impressões que ele teve de São Paulo? Ele olhou para a amplidão, pensou e respondeu: -¨ a cidade é grande, tem muita gente andando de um lado para o outro, sem trabalhar, sem fazer nada. São um bando de vagabundos¨. Mal sabia ele que seu neto muito mais tarde viria para essa cidade acolhedora encarar a correria do dia a dia para trabalhar durante o dia, estudar à noite e constituir família. Sou baiano de nascimento e paulistano de coração. Quanto às impressões do meu avô, ele estava equivocado: ¨errar é humano¨. Aqui é a terra das oportunidades, do trabalho, embora nos dias atuais, esteja de fato escasso. O lema que vem escrito no brasão da cidade de São Paulo em latim é: - ¨NON DUCOR, DUCO¨ - ¨NÃO SOU CONDUZIDO, CONDUZO¨.   

 

 

 

 

 

 

 

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