VIAGENS II
Filemon Martins
Sempre visitei minha cidade natal, quando solteiro e depois de
casado. Em companhia de minha esposa fomos algumas vezes visitar Ipupiara, na
Bahia. Minha mãe, antes de nos deixar, deu-me de presente um terreno no
perímetro urbano da cidade, na praça Eugênio de Araújo.
Consultei a esposa e entendi que minha mãe queria que eu
construísse uma casa naquele pedaço de terra. Foi o que fiz. Aos poucos fui
construindo a casa com a supervisão do primo Silas Barbosa Ribeiro. Morando e
trabalhando em São Paulo, todo móvel que era trocado, seguia para a nova casa
em Ipupiara. Assim, praticamente mobiliamos a casa. O que faltou compramos lá
mesmo.
Dessa forma, quando viajávamos para lá podíamos ficar 15 dias ou
um mês batendo pernas pela cidade e visitando parentes e amigos pelos
arrabaldes. Certa vez, em companhia de dona Nilza, mãe do primo Silas, visitamos
o tio Lula, Antonio Martins Ribeiro e tia Maria, depois fomos ver o tio Zuza,
José Martins Santos e tia Loura, Presilina Rodrigues Machado. Casinha antiga,
simples, mas sempre simpática. No meio da sala e bem no alto havia uma linha de
madeira que se estendia de uma parede à outra. Curiosa, minha mulher perguntou
para que servia aquela madeira no alto e no meio da sala. E o tio começou a
explicar e emendou com uma história, dizendo: aqui criamos cabras, galinhas,
porcos, algum gado e alguns cachorros. Ocorre que há nas serras muitas cobras e
onças que atacam nossos rebanhos e de quando em quando os cachorros acuam uma
onça e nós, os moradores vamos caçá-la. Uma vez morta, trazemos para cá, onde
tiramos o couro. E começou a mostrar alguns couros de onça, provando que a
história era verídica. Quando partimos dali em direção à casa de outro parente,
minha esposa saiu assustada olhando para todos os lados. Vai que aparece uma
onça...
Agora, nossa visita era no Riacho Grande, ao casal Ariademe
Martins (Deme) e Antonio Martins dos Santos (Totinha). Chegando lá, dona Nilza
já saiu para a roça, anexa à casa para buscar ovos de galinha escondidos no
meio do mato. Enquanto isso, eu e minha mulher ficamos ouvindo as histórias do
primo Totinha. Contava ele que quando chegou por aquelas bandas e como criador
de cabras, galinhas e gado, o prejuízo era enorme. As cobras, especialmente, as
cascavéis que possuem um chocalho na cauda, habitavam a região pedregosa e com
cercas de pedra, matavam muita criação. Ele, então, saía à caça dessas cobras e
quando algum bezerro sumia, ele se punha atrás do animal sumido e quase sempre
se deparava com as cobras. Disse ele que, cansado de andar, sentou-se numa
pedra, retirou da capanga uma cabaça com água e começou a beber. Mas, olhando
para o lado avistou uma cascavel enorme, enrolada e pronta para o bote. Ficou
imóvel e foi pegando bem devagar sua espingarda. Segundo ele, um movimento
brusco e ela ataca. Mas ele pulou com a espingarda já engatilhada e atirou.
Tiro certeiro sem chance para a cobra. E, levantando-se entrou num depósito
existente na casa e voltou exibindo alguns chocalhos. Nesse dia, almoçamos aí,
descansamos um pouco e quando partimos de volta para casa, minha mulher não se
cansou de observar o caminho com medo de que alguma cobra pudesse aparecer.
Obs.: Gratidão e agradecimento ao primo Isidoro Pereira de
Novais pelas informações prestadas.
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