QUEM FOI ADELINO PEREIRA DE NOVAIS?

 QUEM FOI ADELINO PEREIRA DE NOVAIS?

(ANTES E DEPOIS DA CONVERSÃO AO EVANGELHO)

Filemon Martins

 

ADELINO PEREIRA DE NOVAIS nasceu na Lagoa do Barro, Ipupiara, em 1888 e casou-se em 1917 com Marcolina Pereira de Novais, nascida em Ipupiara.  Juntos tiveram os filhos Agenor Pereira de Novais, João Pereira de Novais, Carolina Pereira de Novais (Loura), Elísia Pereira de Novais, Moisés Pereira de Novais, Arão Pereira de Novais, Josué Pereira de Novais e Timóteo Pereira de Novais. A primeira filha do casal que nasceu em 1919, faleceu ainda muito nova.

Adelino, conhecido como Adelino Arrupiado, era um homem de temperamento forte e não aceitava provocações, talvez isso justifique o apelido. Era um jogador de cartas inveterado e valente. Faziam apostas com valores em espécie ou mesmo outros de representatividade. Conta-se que ele e os amigos quando se sentavam à mesa, pegavam o punhal e o cravava na mesa. Só depois desse ritual, começavam a jogar. Era também extrativista de maniçoba, que tinha boa aceitação industrial, nas décadas de 1920 e 1930. Exerceu a atividade de garimpeiro naquelas serras do Sertão, tendo ido até Lençóis, na Chapada Diamantina. Paralelamente, ganhava o seu sustento como agricultor de pequenas plantações, possuidor de terras (roças) e pequeno criador de gado por conta própria. Mas tudo o que ganhava era consumido em jogos, bebidas e noitadas.

Moravam na Lagoa do Barro e sua esposa Marcolina Pereira de Novais todas as noites rezava para dormir logo. Numa dessas noites, depois de rezar, ouviu cantorias lá fora. Logo imaginou que seria os crentes que voltavam de um culto na Mata do Evaristo, que dizia assim: ¨Orações não salvam! Apesar do seu fervor, petições não tem valor pra salvar o pecador, orações não salvam! É Jesus quem salva! Ele a obra consumou, Meus pecados expiou, com seu sangue me lavou, é Jesus quem salva¨! Cantor Cristão 186. Essa música tocou em seu coração e ela pôde compreender que só Jesus pode salvar. A partir daquele dia mostrando-se interessada em conhecer mais a Bíblia, foi acolhida pelo grupo, tornando-se crente.   

O marido, senhor Adelino vinha observando a mudança de comportamento da esposa de uns tempos para cá, mas sua conversão ao evangelho se deu de forma curiosa, conforme registra Arides Leite Santos, no livro História dos Batistas em Ipupiara, página 25: ¨certo dia saiu da Lagoa do Barro rumo à Vila de Jordão, como de costume, para jogar baralho e tomar cachaça com amigos. Lá pelas tantas, no agito da farra, um parceiro lhe diz que os crentes estão ali perto reunidos, e sapecou: - Quando esses crentes fecham os olhos para orar, aparece um bode preto no meio deles. Ouvindo aquilo, Adelino foi logo dizendo que ia lá, queria ver e pegar o bicho. Tendo ido, ficou de longe, a observar, esperando. E o bode nada! Enquanto esperava, ouvira passagens bíblicas, oração, cânticos de louvor a Deus. Voltou à roda de amigos. Um deles, irônico, indagou-lhe se cogitava passar para o lado dos crentes. - ¨Vou assistir mais reuniões; um dia vou ser crente¨, respondeu. À noite, voltou para casa macambúzio. Quis logo conseguir uma Bíblia¨.

Conforme relato de Saul Ribeiro dos Santos, seu neto, depois de sua conversão ao evangelho foi batizado nas águas da Lagoa do Meio, que naquela época pertencia à família Ribeiro Barreto. O batismo foi realizado pelo Pastor Antônio Viegas, missionário da Junta de Missões Nacionais. Essa mudança de vida lhe propiciou exercer a atividade de comerciante varejista de cereais. Possuía dois depósitos. No primeiro armazenava e vendia milho, feijão, café em grãos e no outro vendia farinha de mandioca, rapadura e sal.

Sempre às segundas-feiras havia uma feira livre na Vila de Jordão e lá montava sua banca, onde vendia alimentos.

A farinha era armazenada em grandes sacas ou grandes caixotes de madeira. As rapaduras eram guardadas em prateleiras especiais. Contudo, sempre enfatizava de que o fato mais importante da vida dele foi sua conversão. Dedicado à causa da fé, participou e foi membro ativo da Igreja Batista, cuja sede ficava na rua Rui Barbosa, centro de Ipupiara. Por vários períodos foi eleito moderador da Igreja Batista da Vila de Jordão, hoje Ipupiara, sob a supervisão do pastor do campo missionário, Antônio Viegas. Em 1944, como moderador, depois de conversar com os membros da Igreja, em reunião de assuntos administrativos sugeriu a construção de um cemitério batista, tendo em vista que na Vila não havia cemitério municipal. O cemitério existente pertencia à Igreja Católica, que não aceitava o sepultamento de crentes naquele local. Quando falecia algum crente era sepultado na propriedade rural de parentes. A proposta do moderador Adelino foi aprovada e o cemitério foi construído no sopé do Monte Cruzeiro, à beira do caminho. Nesse cemitério foi sepultado Adelino Pereira de Novais, em 1967, com 79 anos de idade. O Sertão da Bahia, naquela época, vivia abandonado pelo poder público, e conforme narra Arides Leite Santos, ainda em seu livro ¨História dos Batistas em Ipupiara¨ em setembro de 1953, Artur Ribeiro propôs à Igreja a criação da ¨Escola dos Descalços¨, nome alusivo às crianças pobres da Vila de Ipupiara que, não possuindo sapato, ficavam impedidas de estudar na escola que lá existia. Os membros aprovaram e, na mesma sessão, escolheram Durvalina Ribeiro Cunha para ser a professora, com salário mensal de Cr$ 350,00 (trezentos e cinquenta cruzeiros). Adelino Pereira de Novais comprometeu-se a ajudar no pagamento, contribuindo com Cr$ 50,00. A professora tinha o auxílio da filha Lóide Ribeiro Cunha, que se casaria mais tarde com Frederico Francisco Martins – o mecânico que depois de trabalhar em São Paulo, comprou e levou maquinário atual e adequado à sua profissão. Essa escola funcionou no prédio contíguo ao fundo do templo da igreja Batista, na rua Rui Barbosa. Lóide, depois de casada, passou a se chamar Lóide Ribeiro Martins¨.

Saul Ribeiro comenta um fato curioso: Adelino Pereira de Novais não se envolvia em assuntos políticos. Era apolítico. Mas, como sua família era numerosa e gozava de boa influência e respeito perante muitas famílias da Vila de Jordão, dos povoados Lagoa do Barro, Santo Antonio e tinha também alguns empregados permanentes e ocasionais, era comum em anos de campanhas eleitorais ser importunado pelos candidatos. Naquela época, estavam em evidência dois grandes partidos: a UDN e o PR. O Título de Eleitor não era um documento exigido para muitos registros, como acontece hoje. Como os políticos não lhe davam trégua, ele tomou uma decisão rigorosa e curiosa. Disse alto e bom som: ¨Marcola (nome usual de sua esposa), os políticos estão sempre vindo nos incomodar. Então eu vou rasgar nossos Títulos de Eleitor¨. E assim o fez.

ADELINO PEREIRA DE NOVAIS, GASPARINO FRANCISCO MARTINS E ARTUR RIBEIRO DOS SANTOS foram pessoas importantes na construção do Templo da Igreja Evangélica Batista, na rua Rui Barbosa. Hoje Igreja Batista Renovada de Ipupiara, sob a direção do pastor Adelso Durães.

Com a separação dos Batistas ocorrida em dezembro de 1969, a Primeira Igreja Batista transferiu-se para um salão provisório, usando o Dispensário Batista, até que o novo templo fosse construído na Praça Santos Dumont, o que ocorreu em setembro de 1970, passando a se chamar Primeira Igreja Batista – PIB, filiada à Convenção Batista Brasileira, hoje sob o comando do pastor Clóvis de Sousa Nogueira.  

Adelino faleceu em Ipupiara em 1967, com 79 anos de idade.

 

Agradecimentos: Saul Ribeiro dos Santos, autor do livro ¨DECISÕES E DECISÕES¨, pelas informações prestadas, sem as quais seria impossível escrever este texto.

 

Obs.: Inserido também no Blog do Filemon – www.filemon-martins.blogspot.com

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