COISAS DE ADOLESCENTE
Filemon
Martins
Acho
que todos nós desenvolvemos na infância e adolescência algum sentimento de
posse e primazia, quando a peteca, a bola, o brinquedo, a roupa, tudo é meu. É
meu e ninguém mexe.
Comigo
não foi diferente. Vivíamos numa região carente de tudo, saúde, educação,
segurança, falta de apoio ao agricultor. As professoras vinham de outras cidades,
geralmente da cidade da Barra, às margens do Rio São Francisco. Naquele ano,
estudei com a professora Odete, e era um tempo festivo. Muitos colegas de
escola, muitos amigos de classe, mas sempre havia uma disputa entre os alunos.
- Quem era o mais inteligente? - Quem ficaria em primeiro lugar na prova
mensal? - E na prova semestral? E também
havia o recreio, a hora da merenda e das brincadeiras. Cidade pequena, cada um
corria para suas casas para lanchar. Não era costume ou comum as crianças
levarem o lanche para a escola. Alguns, quem podia levava algum trocado para
comprar uma pipoca, cocada na venda de Manoel Taioba, feita pela Dona Isaura ou um biscoito ¨salva-vidas¨,
produzido pela tia Almira Barreto Martins, mãe do Fábio. As brincadeiras eram
uma bola de meia ou uma peteca. Depois, cansados e suados voltávamos a sala de
aula.
E
eis que chega ao fim o ano letivo. Era para todos nós uma grande festa. Íamos
receber nossos boletins da escola constando todas as médias e notas alcançadas
pelos alunos. Mas havia a prova final. Era dia de gala. Todos os professores e
pais de alunos estariam presentes à cerimônia. Todos reunidos no salão da
escola, começou a chamada pelos nomes, com a revelação das notas finais. Na
classe orientada pela professora Odete, o aluno Filemon Martins teve nota 9.6 e
Jadilson Almeida, 9.5. Ambos em primeiro
lugar. Recebi o boletim e ganhei de presente um copo de plástico, tipo ¨abre e
fecha¨. Mas ao terminar o cerimonial, procurei a professora Odete e disse: - a
senhora não foi justa, pra mim 9.6 é maior que 9.5, portanto eu seria o
primeiro e o meu colega Jadilson seria o segundo colocado. – Ela olhou, sorriu,
passou a mão em minha cabeça e disse: - ele também mereceu. E foi saindo...
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