QUEM FOI MARIA THEREZA CAVALHEIRO?
Filemon Martins
Maria Thereza Cavalheiro nasceu em São
Paulo em 25/01/1929, passou parte da infância em Itapetininga-SP, onde fez seus
primeiros estudos, tendo sido aluna do saudoso e consagrado poeta-general Mário
Barreto França, quando este ainda era tenente naquela cidade paulista.
Na capital
paulista, diplomou-se em Direito em 1972, pela Universidade Mackenzie,
tornando-se Advogada, com registro na OAB/SP, e como Jornalista, no Ministério
do Trabalho. Era Tradutora, Conferencista, Ecologista e Escritora, que é sua
verdadeira paixão.
Publicou,
entre outros, “ANTOLOGIA BRASILEIRA DA ÁRVORE” (Bartira-1960, com duas edições
ao ano), “POEMA DA CIDADE AZUL”(Sinfonia de Brasília, Cupolo,1963), “NOVA
ANTOLOGIA BRASILEIRA DA ÁRVORE”(prosa e verso), (Iracema, em coedição com a
Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo do Estado de São Paulo, 1974),
“COLOMBINA E SUA POESIA ROMÂNTICA E ERÓTICA” (Biografia e seleção de poemas,
1987), “ESTRELAS E VAGA-LUMES” (Trovas,
1988), “SEGREDOS DO BOM TROVAR” (Como fazer trova-Antologia, 1989)
“RELÂMPAGOS” (poemetos, 1990), “ENCONTROS E DESENCONTROS”(poesias, 1ª edição-
1992, 2ª edição-1995), “CABEÇA DE MULHER” (Contos, 1998).
Seu
primeiro livro “ANTOLOGIA BRASILEIRA DA ÁRVORE” foi publicado em 1960 com
prefácio de Francisco Patti e apresentação de Guilherme de Almeida, o “Príncipe
dos Poetas Brasileiros”. Quase todos os seus livros encontram-se esgotados, sendo
possível encontrar um ou outro exemplar nos sebos de São Paulo.
Além de
exercitar com maestria a poesia clássica, o verso livre, a crônica e o conto,
Maria Thereza Cavalheiro, sobrinha-neta de Colombina, mostrou-se apaixonada
pela Trova, tornando-se exímia trovadora, premiada internacionalmente. São incontáveis seus prêmios. Colaborou em
jornais e revistas, divulgando trovadores e poetas que não têm vez nem voz,
através de suas colunas literárias pelo Brasil afora.
Escrever
ou falar sobre a obra poética de Maria Thereza é tarefa das mais agradáveis,
porque sua poesia fala ao coração, é espontânea, inspirada e de uma
simplicidade própria dos grandes artistas da palavra. Melhor ainda é lê-la.
Numa entrevista bem alentada ao jornal “FRONTE CULTURAL” de Chapecó, Santa
Catarina, ela confessou: “Apesar de toda a violência que assola o mundo neste
início de século, ainda acredito no ser humano, e principalmente em Deus. Acho
que é semeando que colhemos, embora nem sempre possamos colher na mesma seara.
Mas, a quem planta uma árvore hoje, não faltará o fruto de amanhã.” Mais
adiante, afirmou: “No entanto, nem sempre sou uma “artista” da palavra, às vezes
sou uma “operária”. E isto porque na vida profissional utiliza-se da palavra
como pesquisadora, tradutora (especialmente do francês) e redatora¨.
E continuou:
“Aos seis anos, já gostava de poesia, graças a minha mãe que me fazia decorar
algumas quadras populares. Assim que aprendi a ler e escrever, passei a copiar
poesias e trovas em álbuns, que conservo até hoje. Escrever, para mim,
tornou-se uma necessidade premente. Acho, aliás, que todos que escrevem,
fazem-no por necessidade íntima de transmitir alguma coisa, de não guardar para
si aquilo que em seu interior está para eclodir”.
Não
importa o tema ou gênero, Maria Thereza Cavalheiro trouxe sempre uma mensagem
de esperança, paz, amor, confiança, esbanjando capacidade, sabedoria e síntese,
característica fundamental da trova. É impossível não se emocionar com estes
versos: “Têm as mães uma ternura/ que ninguém mais tem por nós;/ sabem sorrir
na amargura/ e nunca nos deixam sós...” “Não haveria fronteira/ neste mundo se
a amizade/ fosse a união verdadeira/ entre toda a humanidade.”
Com esta
trova obteve o 1º lugar no IV Concurso de Trovas de Tambaú/SP: “Por mais que
intimide o mundo/ e a vida acarrete o medo/ sempre se guarda no fundo/ uma
esperança em segredo...” São tantas trovas escritas com magistral inspiração,
que é impossível não transcrever algumas: “Esconde o pranto depressa/ e finge
que estás contente, / que aos outros não interessa/ saber as mágoas da gente.”
“Com tanta agressão e guerra, / neste Milênio, é preciso/ que Jesus retorne à
terra/ e nos traga a paz e o riso!” Por fim, esta trova-pérola: “Quem faz o bem
tem a paga, / quem é bom nunca está só;/ o tempo jamais apaga/ o que fica além
do pó.”
Se
alguém, por qualquer motivo, não conhecia a grande poetisa paulista, estava em débito
com um dos nomes mais representativos da Literatura Brasileira. Com o poema
“AMIGO... QUEM É AMIGO?” conquistou o 1º lugar no II Concurso de Poesia,
promovido pela 116ª Subsecção de Jabaquara, OAB/SP. “Amigo não é o que nos
salva do incêndio, mas o que não deixa a casa pegar fogo... Amigo é a presença
que conforta. A mão que sustenta. O olhar que acalma. A voz que tranquiliza.
Amigo é aquele que sempre busca um modo de ser útil. É o que não nos deixa
sozinhos em qualquer circunstância. Amigo, em resumo, é quem nos ajuda a
viver”.
Em
“ADVERTÊNCIA” ela diz: “Procura não ter nada supérfluo, nem roupas, nem louças,
nem móveis, nem inúteis contatos – ditos amigos: as coisas são garras que nos
prendem os pés; tais amigos, os que nos tolhem as mãos; pretendem sempre saber
o que fazemos, compramos, ganhamos, queremos. Toma cuidado com a intimidade.
Que ela seja apenas tua. Lembra-te de que são poucos os que se regozijam com a
alegria que tens: se não os reconheces de pronto na multidão imensa, guarda-te
para ti mesmo”.
Incansável,
seu trabalho foi uma constante busca de imagens harmoniosas, que permeiam suas
poesias e trovas. Sua poesia “PRECE DO ESCRITOR” é fantástica, especialmente
para aqueles que cultivam o ofício de escrever: “Permiti, Senhor, que a rosa do
idealismo não pereça, jamais, em minhas mãos; iluminai-me, Senhor, para que
minha palavra seja, agora e sempre, a Vossa Lei; fazei, Senhor, com que eu
tenha coragem para enfrentar a derrota, e humildade para aceitar a vitória,
pois uma e outra são da própria vida”.
Em 1969,
fundou a Seção Municipal de São Paulo da União Brasileira de Trovadores – UBT,
da qual foi presidente até 1976. Como ecologista, recebeu honrarias, como a
Medalha “Comemorativa da Campanha de Educação Florestal”, concedida em 1956
pelo SERVIÇO FLORESTAL DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA.
Desde
1973, vem escrevendo a coluna “Trovas”, em vários jornais e revistas de São
Paulo, tendo registrado em 2007, 30 anos dessa publicação em O Radar, de
Apucarana-PR, jornal editado pela saudosa Rosemary Lopes Pereira. Desde
Em seu
mais recente livro publicado, “TROVAS PARA REFLETIR”, (Elite Gráfica Ltda. – 2009)
a autora inseriu na primeira parte do livro, 180 trovas versando sobre diversos
temas, entre outros, adeus, aflição, alegria, alvorada, amizade, amor, Deus,
ciúme, juramento, mar, mata, natal, noite, omissão, família, etc. Na segunda
parte, aborda magistralmente o tema O BOM TROVAR, mostrando didaticamente
“peculiaridades da trova, como contar as sílabas, escansão, crase, sinalefa,
elisão, aumento e diminuição de sílabas, rima, os ictos, ritmo, cadência,
figuras na trova, o que evitar entre outros assuntos.
Verbete
de inúmeras obras, entre outras: DICIONÁRIO LITERÁRIO BRASILEIRO, de Raimundo
Menezes; DICIONÁRIO DE MULHERES, de Hilda Agnes Hübner Flores; ENCICLOPÉDIA DE
LITERATURA BRASILEIRA, de Afrânio Coutinho e J. Galante de Sousa, edição do
MEC, 1990, com revisão de Graça Coutinho e Rita Moutinho Botelho, edição
revista e atualizada, em 2001; DICIONÁRIO CRÍTICO DE ESCRITORAS BRASILEIRAS, de
Nelly Novaes Coelho.
Maria Thereza Cavalheiro silenciou no dia 02 de setembro de
2018, de infarto (ataque cardíaco), conforme noticiou o trovador José Ouverney,
no site FALANDO DE TROVA.
OBS.: Um agradecimento especial à Escritora Amaryllis
Schloenbach, amiga e prima de Maria Thereza, pelas informações fornecidas, sem
as quais seria impossível escrever este texto.
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