QUERO FALAR COM O CHEFE

 QUERO FALAR COM O CHEFE

Filemon Martins

 

Quando assumi o cargo de chefia no setor do Departamento de Créditos e Cobranças me deparei com situações inusitadas. Antes, preciso esclarecer que quando solteiro já trabalhando no grupo FOLHAS, morei em vários bairros da cidade de São Paulo, entre os quais, Vila Maria Baixa e Alta, Freguesia do Ó, Brás, em diversas ruas, como Almirante Barroso, João Boemer, Bresser e Cel. Emídio Piedade, Pari, Penha e depois de casado, Cangaíba e Itaim Paulista.

A função de nosso setor era essencialmente cobrança, mas nossos funcionários exerciam também o trabalho de vendas. Naquela época, a leitura do jornal era o café da manhã de muitas pessoas. O cidadão ia para o trabalho depois de ter lido as principais notícias do dia publicadas pelo jornal. Assim, nosso setor que tinha a função de cobrar, recebia inúmeras ligações telefônicas do assinante pedindo o cancelamento da assinatura. Os motivos eram variados, mudança de cidade, de país, corte nas despesas, falhas nas entregas e tudo isso era relatado aos nossos atendentes, que procuravam dentro do possível apresentar soluções, mas alguns queriam falar com o chefe. Foi assim que atendi a ligação de um cidadão que me explicava ter-se transferido para um bairro periférico de São Paulo e que julgava não haver entregas naquele local. Disse-me que depois de sua mudança, informaram-no de que naquele bairro o entregador de jornal já havia tentado entregar os jornais, mas os bandidos à solta não permitiam e roubavam os jornais. Daí a razão que ele desejava cancelar sua assinatura. Perguntei-lhe qual o bairro e em que rua ele passou a morar. Sua resposta me trouxe o nome da rua e o bairro - Itaim Paulista. Consultei o mapa que me mostrava que havia entrega naquela região. Argumentei com ele que o jornal era entregue normalmente, apesar das informações que ele recebera. Sugeri que experimentasse ficar com o jornal pelo menos 10 dias e se não ficasse satisfeito, cancelaria a assinatura, o que ele acabou concordando. Assim que desliguei o telefone, entrei em contato com o Departamento de Entregas de Assinaturas e alertei que o jornal não poderia falhar naquele endereço. Imagino que deu tudo certo, porque o assinante não me ligou mais. Mal sabia ele que o chefe morava no Itaim Paulista, bairro da zona leste de São Paulo, em franco desenvolvimento, apesar das enchentes que assolam parte da população e do abandono do poder público àquela região, fato que ainda hoje acontece (2021).

 

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