UM POUCO DA VIDA

 UM POUCO DA VIDA

Filemon Martins

 

Meus primeiros estudos foram na Vila de Morpará, hoje cidade às margens do Rio São Francisco, mas pouco me lembro da escola e da professora. Depois meu pai se transferiu com a família para Ipupiara, cidade mais no agreste da Chapada Diamantina. Estava eu com 7 anos de idade e aí sim me recordo que estudei numa escola pública, com a professora Odete, oriunda de Barra do Rio Grande, que veio com outras professoras lecionar em Ipupiara. Depois estudei mais tempo na Escola Batista, com algumas professoras que foram enviadas pela Junta de Missões Nacionais, da Convenção Batista Brasileira, entre outras, Ruth Isabel de Souza, Rasma Ossis e Débora Pinto Barros, com as quais estudei e terminei o curso Primário. Nesse período, mas em ocasiões diferentes, a Junta enviou três auxiliares para a Escola: Terezinha Oliveira, Dorotéia Lima de Souza e Eliene Lima de Araújo.

Quando terminei o curso Primário, sem condições de prosseguir nos estudos, mesmo porque na cidade ainda não havia o curso ginasial, estudei mais um ano com o professor Nenildo Andrade Leite, da cidade da Barra, que foi casado com a também professora de Ipupiara Edite, filha do Sr. José Carlos dos Santos. Naquela época o filho homem deveria escolher e seguir uma profissão e no interior não havia muitas escolhas, você poderia ser carpinteiro, mecânico, alfaiate, sapateiro ou continuar como lavrador. Escolhi aprender o ofício de sapateiro e por algum tempo fui aprendiz com Nizan Ribeiro dos Santos, que era casado com Dona Loura (Carolina Pereira de Novais), com quem teve três filhos, Saul Ribeiro dos Santos, Beatriz Ribeiro Novais e Miriam Ribeiro Novais. Mas o Sr. Nizan decidiu se transferir com a família para Bom Jesus da Lapa, onde teria melhores oportunidades. De fato, depois de um ano e meio que chegou em Bom Jesus da Lapa juntamente com outros foi nomeado pelo Deputado Federal Manoel Novais para trabalhar na SUVALE – Superintendência do Vale do São Francisco, hoje CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Enquanto isso, eu pedi ajuda a outro sapateiro, o saudoso Ney Monteiro, que foi casado com Dona Orna e com ele fiquei trabalhando e aprendendo por um bom tempo, até que um acidente me fez desistir de ser sapateiro, deixei cair uma faca afiada no meu pé, que jorrou muito sangue e tive que correr para o Dispensário Batista para fazer curativo. Até hoje tenho a marca do corte. Depois deste período, por instrumentalidade do Sr. Aristides Antônio dos Santos, quase me tornei comerciante em Ipupiara. Foi quando fiz minhas primeiras viagens a São Paulo para comprar mercadorias nas Ruas 25 de Março, Jorge Azem, Carlos de Sousa Nazaré, com outros comerciantes já veteranos. Contudo, meu desejo de estudar acabou prevalecendo e depois de algumas viagens, combinei com meu pai, Adão Francisco Martins, que viria comprar as mercadorias, mandaria as compras, mas ficaria em São Paulo com o objetivo de trabalhar durante o dia e estudar à noite. Foi o que fiz. Meu pai ficou responsável pela loja e quando necessário eu faria as compras e as enviaria para Ipupiara. Mas no dia 7 de janeiro de 1970 Deus o chamou. Uma parada cardíaca o levou para sempre e o nosso negócio teve que ser desfeito. Nessa ocasião, eu já era funcionário do grupo FOLHAS, depois de ter trabalhado como vendedor numa loja de confecções na Rua Oriente, no bairro do Brás. Assim, trabalhava na Empresa Folha da Manhã S/A durante o dia e à noite fazia o Primeiro Grau, no Colégio Modelar, na Avenida Tiradentes, centro de São Paulo. Terminado o curso, fui para o Colégio Santa Inês, onde fiz o chamado Segundo Grau. Nesse período, fiz muitos amigos e amigas. Uma delas de forma inusitada. Era praxe da escola fazer uma prova mensal, na qual premiava o aluno com maior nota. Minha aptidão sempre foi para as matérias de Humanas e no exame mensal, alcancei a melhor nota. Chamado na Secretaria da escola para escolher o prêmio, que geralmente eram livros, estou a olhar minuciosamente o catálogo oferecido, quando entrou na Secretaria uma senhora moça falando alto para a secretária: -¨ quero conhecer aquele aluno que tirou o meu prêmio, eu sempre tive a nota mais alta e agora apareceu esse Filemon e arrebatou o meu prêmio¨. Ouvi o meu nome e observei que a secretária ficou sem jeito, meio constrangida e respondeu: ¨o rapaz é esse que está ao seu lado, escolhendo o prêmio dele¨.

Ela, de imediato se apresentou, dizendo: ¨sou Joana de Toledo¨ e foi me parabenizando. Assim, nasceu nossa amizade que durou enquanto ela teve vida. Ficamos amigos e recebi, tempos depois, um livro de poemas de sua lavra que ela publicou.

Depois dessa maratona, veio o curso de Administração, na Faculdade de Administração e Ciências Econômicas Santana, época em que, por concurso público fui trabalhar na Prefeitura do Município de São Paulo e mais tarde também por concurso, no Judiciário Federal, onde me aposentei, graças a Deus.

 

Em tempo: agradecimentos a Saul Ribeiro dos Santos pelas informações prestadas sobre Nizan, seu pai, que após trabalhar como sapateiro em Ipupiara, tornou-se funcionário da SUVALE, em Bom Jesus da Lapa, Bahia.    

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