CARA
METADE
Filemon
Martins
Tudo começou em Ipupiara, no agreste da Bahia. Ninguém, naquela pequena cidade
interiorana, poderia imaginar que tal fato pudesse acontecer. Renato, já rapaz,
de família simples e humilde, como tantos outros, deixou sua terra e rumou para
São Paulo em busca de dias melhores. Naquela época não havia tanta gente e
enorme desemprego na capital paulista. Era fácil encontrar um trabalho que
proporcionasse a sobrevivência.
Já em São
Paulo, Renato passou a trabalhar durante o dia e estudar à noite. Inteligente e
com muito esforço, tornou-se, por concurso público, funcionário do Banco do
Estado de São Paulo (Banespa) hoje o espanhol Santander. Assim, Renato foi
conquistando espaço dentro do banco e se tornou um respeitável bancário.
Naquele tempo, bancário ganhava bem e era um ótimo emprego.
Mas havia um
problema com Renato. Solteiro, boa pinta, bem de vida, mas muito tímido para
arranjar namorada. E Renato queria se casar. Mas, como? Era necessário namorar,
noivar, para depois se casar. Pensou, pensou e não encontrava uma solução. A
timidez lhe impedia de arranjar uma namorada, ainda mais ele, que, por
formação, queria namorar uma moça de família para, então, noivar e por fim,
constituir família.
Enquanto
trabalhava no banco no centro de São Paulo, matutava todos os dias em busca de
uma solução. Enfim, teve uma ideia. Lembrou-se de que em Ipupiara, sua terra
natal, sempre no mês de junho se realizava as tradicionais festas juninas,
Santo Antonio, São João e São Pedro, com maior importância e mais gente, a
festa de São João, padroeiro da cidade, dias 23 e 24 de junho, com muita
pipoca, quentão, quadrilha, mulher bonita, fogueiras e leilões. Numa dessas
festas, ele haveria de arranjar uma noiva, pensou.
Decidido,
pediu licença ao banco, já que não tinha férias na época, tomou um ônibus e
rumou para Ipupiara, interior da Bahia. Ali, com certeza, pensava ele,
encontraria sua cara metade. E enquanto a missa se realizava na Igreja e a
festa pelas ruas da cidade, ávido, ele observava todas as moças da cidade e
outras da região que vinham em grande número participar dos festejos e das
homenagens a São João.
Não demorou
muito e Renato, passeando por uma rua da cidade, avistou uma bela moça, alta,
sedutora, prendada e bem educada. De longe, desconfiado, ficou observando,
encantado. Aos poucos foi se aproximando da moça, enquanto imaginava o que e
como lhe falar. Era preciso aproveitar o pingo de coragem que lhe restara. É
agora ou nunca, pensou. Cumprimentou-a, apresentando-se em seguida. Sorriu,
gaguejou um pouco, mas falou do seu interesse. Quis saber o nome dela e a que
família pertencia. Quebrado o gelo, logo falou do que sentia e do seu objetivo,
perguntando se ela aceitaria namorar, ficar noiva e casar em, no máximo, três
dias.
Atônita, a
jovem ficou rubra e meio sem jeito disse que precisava pensar, falar com sua
família, mas prometeu dar-lhe uma resposta o mais breve possível, no que Renato
concordou. Horas depois, lá estava Renato em busca da resposta, que, para sua
alegria, foi sim. Nunca ouvi falar, nunca vi e nunca assisti a um casamento tão
rápido quanto aquele em minha vida. Com as bênçãos das famílias, em apenas três
dias, Renato e Raquel (*) estavam casados e viajando de volta a São Paulo.
Contrariando
a tradição e os especialistas no assunto, Renato e Raquel estão casados desde
aquela época e residem na zona Oeste de São Paulo, onde são exemplos de família
com filhos ordeiros, felizes e bem criados. São almas gêmeas.
(*) Os nomes
são fictícios, mas a história é verdadeira.
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