O CALOTEIRO
Filemon Martins
O cidadão que atendia pelo nome de Zé Treiteiro morava num
lugarejo próximo à Vila do Jordão, onde esporadicamente fazia suas compras.
Ocorre que o sujeito gostava de comprar fiado em todas as casas comerciais,
como era costume em outros tempos no interior, mas na hora da pagar a dívida,
escorregava como quiabo. Era um velhaco, farsante, enganador, um mau pagador.
Meu avô Gasparino Francisco Martins, que era comerciante na Vila
do Jordão e apolítico, gostava de afirmar: - ¨quem não cumpre sua palavra, não
merece respeito¨.
Quando algum negociante desavisado caía no golpe, nunca mais via
a cor do dinheiro. Assim que o credor o avistava e saía em seu encalço, ele
desaparecia como num passe de mágica. Entrava por uma porta e saía rapidamente
pela outra, não dando chance a que fosse cobrado e quando era, inventava
desculpas mirabolantes.
De quando em quando um novato comerciante se estabelecia na Vila
e nesse momento o Zé Treiteiro fazia a festa. Com uma lábia só comparável aos
políticos brasileiros, ele conversava com o dono do estabelecimento e acabava
comprando a prazo com promessa de pagamento para daqui a alguns dias e nunca
mais voltava para quitar sua dívida.
Adepto costumeiro dessa prática, sua fama correu o Município, as
cidades vizinhas e rumou para São Paulo, de tal forma que se tornou referência
entre os conhecidos e pessoas que chegavam da Vila do Jordão, interior da
Bahia. Quando, em algumas ocasiões, desejava-se saber sobre a honestidade de alguma
pessoa, o interlocutor simpaticamente, dizia: - ¨você conhece o Zé Treiteiro lá
da Vila? Então é do mesmo jaez¨. Essa resposta já dizia tudo.
E o assunto estava encerrado, porque para bom entendedor, uma
palavra basta. Hoje a antiga Vila do Jordão, outrora palco de disputas
políticas entre os Coronéis Horácio de Matos (Brotas de Macaúbas/Lençóis) e
Militão Rodrigues Coelho (Barra do Mendes) se transformou na progressista
cidade de Ipupiara, no interior baiano.
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