HORAS
MORTAS
Alberto
de Oliveira
Breve momento, após comprido dia
De incômodos, de
penas, de cansaço,
Inda o corpo a
sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me
entregar, doce Poesia!
Desta janela aberta
à luz tardia
Do luar em cheio a
clarear o espaço,
Vejo-te vir, ouço o
leve passo
Na transparência
azul da noite fria.
Chegas. O ósculo
teu me vivifica.
Mas é tão tarde!
Rápido flutuas,
Tornando logo à
etérea imensidade;
E na mesa a que escrevo apenas fica,
Sobre o papel –
rastro das asas tuas –
Um verso, um
pensamento, uma saudade.
( GRANDES SONETOS DA NOSSA LÍNGUA, PÁGINA 81)
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