NÃO SERIA A ERA DIGITAL UMA EXCLUSÃO SOCIAL?

 

NÃO SERIA A ERA DIGITAL UMA EXCLUSÃO SOCIAL?

                                                       Filemon Martins

 

Os bancos, as empresas de telefonia, a imprensa em geral é maciça em apregoar a inclusão digital, como forma democrática de incluir uma parcela da população na sociedade. Parecem considerar a Era Digital mais importante que a própria educação do povo, que fica em segundo plano.

Ora, os celulares, smartphones e aparelhos digitais estão cada vez mais caros, mas a pregação é que se pode fazer tudo digital, então você não recebe mais boleto ou carnê de IPVA, as empresas prestadoras de serviço não querem mais enviar faturas, mas querem receber até mesmo antes do vencimento.

Não se pode negar os benefícios que advém dessa Era Tecnológica, mas é uma utopia imaginar que todas as pessoas dominam essa área, a ponto de abolir todo e qualquer papel. Entre essa parcela da sociedade chamada de ¨careta, ultrapassada, velha e inútil¨ eu me incluo. Sou da geração que fica aguardando a fatura do telefone, que, a contragosto da empresa me é enviada, mas a todo instante vem uma mensagem: - seja digital. Fico aguardando, como era antigamente, o boleto ou carnê do IPVA, que não vem mais, porque tudo agora, queiram ou não, é digital e assim por diante. Uma empresa de transporte que costumo usar quando vou e volto do médico, agora cismou de querer, embora eu declare que vou pagar em dinheiro, o número do meu cartão de débito/crédito. Ora, se já informei que o pagamento é em dinheiro, por que insistem em pedir o número do meu cartão? Nestes tempos bicudos, se com papel já tem muita falcatrua, imagine sem ...

Continuo pensando que é uma utopia imaginar que todas as pessoas sabem usar o celular para resolver sua vida e seus problemas. Não é bem assim, as pessoas sabem usar os celulares e smartphones para interagir nas redes sociais e só, ponto. Além do mais, há locais em que a Internet é lenta e anda a passos de Tartaruga, a mensagem enviada hoje, só chega amanhã e em determinados horários.

Lancei, agora em janeiro de 2022, meu livro CAMINHOS DO JORDÃO DA BAHIA, que está sendo comercializado pelo site da Amazon e tenho recebido inúmeras mensagens neste sentido: - não pago nada pela internet, você não tem outro canal de vendas? Respondo: - você pode fazer o depósito em banco. E o cidadão me diz, então mande uma conta que eu possa pagar em qualquer Casa Lotérica. E outro me diz, prefiro pagar com boleto.

Não faz muito tempo quando me transferi de Itanhaém para São Paulo, com o novo endereço fui ao banco e entreguei a um dos gerentes um comprovante da nova residência solicitando a mudança de endereço para correspondências. Passaram-se três meses e eu estava voltando ao mesmo Banco para saber porque minha solicitação não foi atendida e acabei falando alto e claro para o gerente: - e você quer me fazer acreditar que em um clique de celular eu possa resolver tudo, se vocês com três meses não são capazes de alterar um endereço do cliente, faça-me o favor. O moço ficou nervoso, brabo, levantou-se da cadeira e me disse: - eu mesmo vou alterar.

A partir de então, sim, a correspondência começou a chegar.

Resumindo, minha geração está sendo excluída através da chamada Inclusão Digital. É a velha Lei: depois de utilizado, joga-se fora.

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