REFLEXÕES SOBRE A SEMANA SANTA
Filemon Martins
Tempos
modernos. Estamos vivendo o século XXI. O avanço tecnológico já não assombra
mais o globo terrestre. A informática tem dominado o mundo, com seus
tentáculos. Em todos os setores, a máquina está presente, com seu “código de
barras”. Ela faz coisas que um pobre mortal, como eu, jamais imaginaria.
Ninguém escapa dos computadores. O progresso é incontestável.
O Homem foi à
lua. Hasteou bandeira. Recolheu amostras do solo lunar. Conquistou o espaço. Fez
descobertas incríveis. Mas apesar de todo o progresso da ciência, o Homem não
consegue ser feliz. O progresso acelerado, que prometia trazer uma vida melhor
para o Homem, parece ter falhado. Os problemas são universais. Até agora a
Humanidade já assistiu a duas Grandes Guerras Mundiais. Recentemente a Rússia
invadiu a Ucrânia, matando a todos que estão pela frente: homens, mulheres
civis ou não, crianças, adultos, idosos, que estão deixando seu país e se
refugiando em outros países, inclusive o Brasil. E continuam matando, à nossa
frente, embora sob formas diferentes.
Hoje, no
Brasil, entre outros problemas, o que se constata é o descaso de nossas
autoridades no que diz respeito à saúde, à educação, à segurança e à administração
pública. A corrupção campeia por todos os lados. O desconforto é geral. A
impunidade reina em todos os setores do país, sob os olhares coniventes dos
Tribunais Superiores. Ora, sem saúde, sem educação, sem trabalho e sem
segurança é impossível a população obter seu espaço, crescer, produzir e colher
os frutos do seu trabalho. Aliás, uma grande parte do povo não tem sequer um
emprego para garantir sua sobrevivência e de sua família.
Mas é hora de
descanso. Faço uma pausa e me ponho a refletir. O calendário me lembra da
Semana Santa. É a semana da Páscoa. A televisão torna-se mais amena e mostra
alguns filmes com passagens Bíblicas.
Viajo através
do tempo. Volto à velha Palestina do tempo de Jesus. É a semana da traição,
paixão e morte de Jesus. Percorro as ruas da bela cidade de Jerusalém.
Embrenho-me no meio do povo, que se agita com os últimos acontecimentos. Em
cada esquina da cidade, pessoas comentam as ocorrências da semana. Falam da
prisão do Nazareno. Que teria ele feito? Que crime tão hediondo cometera? E
recordam os milagres que o filho de Maria fizera por toda a Galileia, Samaria e
Judeia. Mas agora estava preso.
Levaram-no,
primeiro, a Caifás, sumo-sacerdote em Jerusalém, que o interrogou com desdém.
Depois, foi levado ao Sinédrio, onde Pilatos presidia aquele julgamento. - “Tu
és o rei dos Judeus?” pergunta Pilatos, mas o Mestre responde: - “Tu o dizes”.
E a outras interrogações de Pilatos, o silêncio do Nazareno transmite com
doçura sua inocência. E Pilatos, num vislumbre de Justiça, porém confuso e
temeroso, pergunta ao povo: - “Que farei de Jesus, chamado Cristo?” E então
pude ouvir a multidão subornada, replicar: - “Crucifica-o! Crucifica-o!”
Pilatos pediu uma bacia com água e lavou as mãos. Esse gesto entrou para a
História, mas não o eximiu de culpa.
Fico perplexo
quando penso na semelhança entre os personagens presentes ao julgamento de
Jesus e os representantes do povo nos dias de hoje. Naquele tempo, Judas, o
traidor, se vendeu por “trinta moedas de prata”. E a elite da sociedade era
composta por escribas, fariseus e sacerdotes, líderes religiosos, como Anás e
Caifás. Mas o Tribunal Romano, presidido ali por Pôncio Pilatos, governador
romano, se acovardou ao entregar o Mestre à turba enfurecida.
E o que
temos, nos dias atuais, representando o povo brasileiro? Com raríssimas
exceções, uma casta de legisladores fingindo estar a serviço do povo, mas zelando
apenas e tão somente dos seus próprios interesses e negócios. São egoístas,
hipócritas e corruptos. Não muito diferente daquele tempo. E todos vão seguindo
em direção oposta ao ensinamento de Cristo quando disse: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo
consomem, e onde ladrões minam e roubam. Porque onde estiver vosso tesouro, aí
estará também vosso coração. Mirai os pássaros do céu, que não semeiam nem
ajuntam em celeiros, mas Deus os alimenta. Contemplai os lírios do campo, como
eles crescem e florescem e nem mesmo Salomão, em todo o seu esplendor, se
vestiu como qualquer deles”.
Que os Homens
dos tempos hodiernos saibam pensar nesses conselhos. Porque a História comprova
que tudo passa. Imperadores, Reis, Rainhas, Presidentes, Políticos, Nobres ou
Heróis, todos passarão. Mas o sacrifício de Cristo no Calvário e a esplendorosa
ressurreição, naquela madrugada de Luz, restauram, por completo, a Esperança
Perdida. Esperança de Justiça Social. Esperança de Paz. Esperança de Vida.
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