CAINDO A MÁSCARA
Filemon Martins
Outra vez estamos aqui cansados,
tristes e desiludidos. Somos um povo escravizado. Não nos referimos àquela
escravidão de cor. Mas somos todos escravos. Escravos da violência e do medo. Escravos
dos preconceitos. Escravos do capitalismo selvagem e da ganância dos políticos
interesseiros. Vítimas dos que apostam na exploração dos que trabalham.
Fazemos parte de uma
sociedade em decadência, onde a miséria medra e a desonestidade campeia. Nestes
dias, principalmente, o brasileiro põe uma máscara. A máscara da depravação
moral. O carnaval já passou, mas a festa do Rei Momo continua. É tempo de
folia. O povo ri, canta e chora. É o ópio do povo. Devidamente patrocinado pelo
poder público, como na Roma antiga: pão e circo. São dias de sonhos, promessas,
ilusões e de glória efêmera. Esquecemos, assim, os graves problemas nacionais.
Esquecemos o desemprego, a desigualdade social, o aumento nas tarifas dos
serviços públicos: luz, água, telefone e do custo de vida em geral, como
alimentação e medicamentos. Esquecemos tudo: até que os últimos presidentes têm
subtraído direitos dos trabalhadores a cada ano que passa. (A Constituição que
se dane, sob os olhos complacentes do STF).
No carnaval, a quarta-feira é dia de cinzas. Ficamos entorpecidos por
alguns dias, mas tudo tem fim. É hora de voltarmos à realidade da vida. O
sucateamento dos serviços essenciais à população é impressionante. Não temos
saúde. Não temos educação. Não temos transportes. Não temos segurança. Não
temos mais nada. Perdemos tudo. Até nossa esperança foi reduzida a cinzas...
Tudo foi vendido em troca de gordas propinas. Seremos vendidos também? Será que
teremos a nossa quarta-feira de cinzas, quando, então iremos acordar para a
realidade social e política? Será que iremos esquecer os inúmeros problemas que
afligem o brasileiro, sem que se tenha a firme determinação de nossas
autoridades para dar solução às questões mais urgentes?
É impossível, nestas
reflexões, não lembrar as palavras, sempre atuais e verdadeiras, do Mestre Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as
nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da
honra e a ter vergonha de ser honesto”.
É necessário que a sociedade
brasileira se conscientize para barrar a política de entreguismo, adotada pelos
nossos presidentes. É preciso dar um basta às embromações arquitetadas pelos
donos do poder através de dúbias reformas, que objetivam lesar o trabalhador e
o povo, em nome de uma falsa modernidade. Para uns poucos, o carnaval não termina,
porque eles continuam agarrados às benesses do poder e se enriquecem cada vez
mais, enquanto nós, os brasileiros, o “zé-povinho,” os trabalhadores
continuamos a dançar o carnaval da miséria e da pobreza que se espalha por todo
o Brasil em pleno século 21.
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