AS TRAVESSURAS DE UM AMIGO
Filemon Martins
Lá pelos idos de 2007 e 2008
comprei uma casa no litoral sul de São Paulo, mais especificamente em Itanhaém,
a 2ª cidade mais antiga do Brasil. Cidade com pouco mais de 103.000 habitantes,
de clima gostoso, aconchegante, praias lindas e onde morei durante algum tempo,
tendo sido empurrado de volta a São Paulo por motivos de saúde, tratamento
médico, conciliação entre convênio e médicos especialistas.
Mas, na época faltavam amigos,
conhecidos e pessoas do bem que só o tempo traz para junto de nós. Numa viagem
que fiz à minha cidade natal Ipupiara, região da Chapada Diamantina, em
conversa com amigos e conhecidos que queriam saber como descobri e conheci
Itanhaém, falei da cidade, sua história, dos caiçaras e das belezas naturais da
cidade litorânea. Ponderei, no entanto, a falta que me fazia não ter amigos e
conhecidos por lá, quando um amigo presente nas conversas, retrucou: -
Itanhaém, tem sim, você se lembra do Flávio, filho do Pedão ou Flávio de Dona
Quena? – Respondi: - lembro, sim, é meu amigo, um pouco mais velho que eu, mas
esse mora na região de Diadema, em São Paulo. - Não, disse-me o amigo, depois
que se aposentou ele mudou para Itanhaém e foi me passando o telefone do Flávio
Mendonça. Dona Quena, sua mãe tinha esse apelido por ser uma mulher pequena. De
volta à Itanhaém, por volta das 19 horas, liguei para o homem e me
identifiquei: - sou Filemon, lá de Ipupiara, lembra-se? - Claro Filemon, como
vai? De onde você está falando? - De Itanhaém, você conhece? - Brincadeira,
disse o Flávio, eu moro em Itanhaém. E o diálogo continuou, que bairro você
mora? Respondi: - Belas Artes. Eu também moro aqui, você conhece o Supermercado
Krill e a farmácia na esquina onde ficam os trilhos? – Conheço, eu moro na Rua
Amélio de Figueiredo. E o Flávio, então, falou: - faz o seguinte, vou desligar
o telefone e estou a caminho daí, fique em sua porta. Fiquei e não demorou
muito, ele chegou e foi uma conversa de muitas horas e se estendeu por muitos
dias.
E foi aí que me relatou suas
travessuras de adolescente junto ao seu irmão mais novo, envolvendo o meu avô
Gasparino Francisco Martins e seu pai Pedão, que era amigo do meu avô e também
do meu pai Adão Francisco Martins. Meu avô era proprietário de um sítio em
Ipupiara e cedia uma parte da terra para que o Sr. Pedão pudesse plantar milho,
feijão, andu, mandioca, melancia, quiabo, maxixe, abóbora etc. Naquela época, o
Sr. Pedão já usava técnicas de irrigação, embora houvesse pouca água, mas quando
a maioria pensava em plantar, ele já começava a colher em sua lavoura por meio
de irrigação usando cabaças com gotejador, o que hoje é feito com garrafas
pet. A água que sobrava das cabaças era
derramada nas plantações. Uma das travessuras do meu amigo Flávio, que eu não
sabia até então. Nas terras do meu avô havia muitas mangueiras que produziam
belos e bons frutos. Os pés de manga rosa, manga papo, manga espada (Bourbon)
ficavam carregados e o meu avô queria colher os melhores frutos, por isso
estava sempre por lá dando uma olhadinha e aproveitava para dar um dedo de
prosa com o Sr. Pedão, enquanto seus filhos menores também o ajudavam capinando
a terra. Segundo o Flávio, eles aproveitavam a presença do meu avô e fingiam
sair um pouco para matar a sede ou mesmo fazer xixi. Mas iam mesmo nas
mangueiras do meu avô colher mangas maduras e as escondiam no mato, depois de
se fartarem. Faziam isso sempre que meu avô aparecia por lá, pois assim não
corriam o risco de serem flagrados colhendo as frutas.
Hoje, o Flávio é proprietário de
uma chácara em Itanhaém e herdou a criatividade do pai, além do gosto pela
lavoura. Assim, ele planta feijão, milho, batata doce, mandioca, melancia,
abóbora, abacaxi, banana, verduras e legumes. Um belo dia ele chegou à minha casa
e disse: - trouxe para você e esposa esta sacola com batata doce, mandioca,
feijão, tomate, quiabo e falou: - é por conta das mangas que roubei de seu avô.
A verdade é que estou sempre recebendo alguma coisa por conta da suposta dívida
que ele diz ter com meu avô... Mas, desconfio que é pela amizade mesmo, que
vale muito mais. Já almoçamos em sua casa e vice-versa. Já fizemos passeios em
família para Olímpia, São Paulo, para Ipupiara, Bahia, onde nascemos, enfim um
amigo do peito... “Amigo é assim: nasce no coração”.
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