SÃO PAULO ANTIGA NA VISÃO DO MEU
AVÔ.
Filemon Martins
Velhos tempos. Estou me
referindo às décadas de 20, 30, quando meu avô Gasparino Francisco Martins,
nascido em Jordão de Brotas, em 1888, ainda rapaz, influenciado por outros
rapazes, veio conhecer a capital paulista. Naquela época, a viagem para São
Paulo era uma verdadeira aventura, um desafio. Iniciava em Ipupiara, antigo
Jordão de Brotas, no lombo de um cavalo até Morpará, Bahia às margens do rio
São Francisco. Daí seguia-se de vapor, que poderia ser o SÃO SALVADOR, o
WENCESLAU BRÁS, o MAUÁ ou o BENJAMIM GUIMARÃES, o mais lendário de todos, pelas
águas do Rio São Francisco, carinhosamente chamado de Velho Chico, até
Pirapora, Minas Gerais. Daí em diante viajava-se de trem até São Paulo. As
hospedarias ou as pensões, geralmente ficavam no nostálgico bairro do Brás,
onde ele teria se hospedado. Com amigos ele foi conhecer o centro da cidade de
São Paulo naquela época. É possível que tenha visitado a Praça da Sé, a Rua
Direita, a Rua Quinze de Novembro, Rua Boa Vista, Praça Ramos de Azevedo, Largo
São Francisco, Largo São Bento, Praça Dr. João Mendes, Av. São João, Av.
Ipiranga, Praça da República, entre outras.
Meu avô, que veio dos Brocotós
do Sertão, não estava acostumado a ver tanta gente, tanto movimento e estranhou
muito. Gente que vai, gente que vem em constante movimento e para lá, para cá,
cada um com seu motivo: pegar condução para trabalhar, voltar pra casa, ir ao
médico, ao escritório, às compras etc. Tudo isso mexeu com meu avô.
Algum tempo depois ele retornou
ao antigo Jordão de Brotas, hoje Ipupiara, no agreste da Bahia. Lá chegando e
em conversa com os amigos, parentes e aderentes, um deles quis saber o que ele
havia achado e quais as impressões que ele teve de São Paulo? Ele olhou para a
amplidão, pensou e respondeu: -¨ a cidade é grande, tem muita gente andando de
um lado para o outro, sem trabalhar, sem fazer nada. São um bando de
vagabundos¨. Mal sabia ele que seu neto muito mais tarde viria para essa cidade
acolhedora encarar a correria do dia a dia para trabalhar durante o dia e
estudar à noite e constituir família. Sou baiano de nascimento e paulistano de
coração. Quanto às impressões do meu avô, ele estava equivocado: ¨errar é
humano¨. Aqui é a terra do trabalho, embora nos dias atuais, esteja de fato
escasso. Hoje a capital tem perto de 12 milhões de habitantes. O lema que vem
escrito no brasão da cidade de São Paulo em latim é: - ¨NON DUCOR, DUCO¨ - ¨NÃO
SOU CONDUZIDO, CONDUZO¨.
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