LIÇÕES DE ONTEM E DE HOJE
Filemon Martins
Embora criança, talvez com uns dez anos de idade, eu ouvia o meu
avô falar e me recordo de muita coisa. Meu avô paterno GASPARINO FRANCISCO
MARTINS nasceu, cresceu e constituiu numerosa família, na cidade de Ipupiara,
interior da Bahia. Naquela época nem era cidade, era apenas um distrito que
teve vários nomes: Campos Belos, Fundão de Brotas, Fortaleza de São João, Jordão
de Brotas, Vanique e a partir de 1936, Ipupiara. Pelo Decreto-Lei nº 12.978, de
1º de junho de 1944, tornou-se em definitivo IPUPIARA. Meu avô, então, era um
homem rude, simples, sem estudos, mas era trabalhador e honesto. E foi ali que
conquistou tudo que era possível financeiramente com o seu trabalho. Possuidor
de fazendas, cabeças de gado, cavalos, casas comerciais, casas de aluguel, além
de ter trabalhado durante muito tempo no comércio varejista.
Os amigos e conhecidos o chamavam de “Doutor” Gasparino. Tinha
gênio forte e era, como se dizia no interior, homem de uma só palavra. Alguns o
achavam “seguro” demais, talvez em razão dos bens que conseguiu obter. Outros,
diziam o contrário. Tornara-se um próspero comerciante na pequena Vila. Em seu
armazém, por sinal, bem sortido, vendia de tudo: feijão, arroz, rapadura, café,
farinha de mandioca, toucinho, açúcar, sabonete, creme dental, enxada, facão,
foice, machado, querosene etc. E em seu comércio até vendia fiado. O sujeito
chegava em seu comércio, comprava a mercadoria que lhe convinha, pagava uma
parte e ficava devendo outra, com promessa de pagamento para determinado dia,
previamente combinado. O ¨Doutor¨ Gasparino tinha uma caderneta, onde anotava o
nome do comprador e “centavo por centavo”.
Pois bem, se no dia aprazado, o sujeito não tinha dinheiro para
pagamento, mas vinha conversar com ele, explicando que houve algum imprevisto,
não havia problema, “veio dar uma satisfação,” ele dizia. Marcava para outra
data o pagamento. Mas, se ao contrário, o camarada não aparecia, aí, meu amigo,
não havia mais jeito. Podia pagar a dívida, porém nunca mais comprava fiado no
armazém do meu avô. E ele nos ensinava, com sua sabedoria e simplicidade: “se o
homem não tem palavra, não tem caráter, não tem moral. Como posso confiar nele
outra vez?”
Naquele tempo, as coisas eram mais difíceis que hoje. Não havia
qualquer tipo de comunicação, a não ser o telégrafo, e muito raramente, algum
rádio na Vila. O acesso era dificílimo. Não havia estradas. Aliás, hoje
existem, mas continuam ruins. Para se ter uma ideia da época e do atraso em que
vivia a população, a primeira bicicleta que apareceu na Vila, meu avô a
apelidou de “o cavalo do cão”.
Desde 2007 a Bahia tem sido governada pelo PT e continuará a
administração petista com a eleição de Jerônimo Rodrigues. Imagina-se que os
baianos estejam satisfeitos com a administração do PT, embora na prática as
coisas não sejam bem assim.
Quanto ao meu avô, tempos depois, ele nos deixou, deixando
também suas lições e exemplos. Nunca mais o esqueci. E ainda o ouço dizer: - “meu
neto, se o homem não tem palavra, não merece confiança.”
Hoje, parece que é ingenuidade esperar que alguém tenha palavra.
Nos palanques da vida, ouvem-se promessas e promessas. São palavras ao vento.
Em todos os níveis: municipal, estadual e federal. Se entre os políticos
antigos o uso era comum, agora, então, com os políticos atuais, como se pôde
ver nestas últimas eleições presidenciais, tornou-se uma prática natural. Pobre
daquele que atrever-se a cumprir promessa ou palavra. E até mesmo a defender o
que aprendeu com o Partido. Corre o risco de ser escrachado e expulso da
agremiação. Que vergonha! Meu avô é quem tinha razão: “Se o homem promete e não cumpre, não tem palavra, não tem moral,
portanto, não merece respeito”.
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